|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A vitória do medo
LISBOA - O governo Luiz Inácio Lula da Silva segue, em matéria econômica, o mesmo caminho de seu sucessor,
que era "maldito".
O governo Luiz Inácio Lula da Silva
não consegue, nas políticas sociais,
controlar os recursos que destina (ou
deveria destinar) até mesmo aos programas mais acarinhados pelo próprio presidente da República, como
ficou claro no caso dos desvios constatados pela Rede Globo no Bolsa-Família.
Agora, o governo Luiz Inácio Lula
da Silva dá as costas também a princípios que deveriam ser básicos, essenciais. Refiro-me, outra vez, ao redivivo caso Vladimir Herzog.
Primeiro, tentar pôr ponto final ao
assunto com uma nota-retratação do
comandante do Exército é um equívoco. Não dá, nesse caso, para dizer
"esqueçam o que o Exército escreveu"
(na primeira nota). Houve um erro
brutal de conceitos e, além disso, açodamento confesso, na medida em
que a segunda nota diz que não houve a devida discussão interna.
Pior do que isso, no entanto, é dar
como boa a segunda nota, na qual se
afirma que o primeiro comunicado
não era "condizente com o momento
histórico atual".
Não, não é nada disso. A primeira
nota e a defesa da "legitimidade" da
tortura e do assassinato de prisioneiros políticos não é condizente com
nenhum "momento histórico", atual,
passado ou futuro.
Ou não é uma violência defender
torturas em um momento histórico
caracterizado pelo desrespeito às liberdades públicas?
O comportamento pusilânime do
governo nesse episódio só reforça a
tese de que, ao contrário do que dizia
a propaganda petista ao término do
processo eleitoral de 2002, o medo
venceu a esperança.
O medo de fazer uma política econômica que tenha pelo menos um
milímetro de imaginação e criatividade. O medo de enfrentar interesses
estabelecidos. O medo de defender
princípios e valores que são um patrimônio da civilização.
Texto Anterior: Editoriais: DECISÃO DIFÍCIL Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Chegou a hora Índice
|