São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Com a cabeça no lugar
MARCOS NOBRE
Isso não significa que esse processo esteja isento de críticas nem que Giannotti não possa ter razão quanto a haver movimentos por parte do governo que podem ter conseqüências antidemocráticas, sendo a proposta (finada, espero) de criação do Conselho Nacional de Jornalismo a que tenha tido talvez a maior repercussão. Mas essas propostas formuladas ou apoiadas pelo governo encontraram forte resistência na opinião pública; conseguiram ser, até o momento, devidamente barradas e não podem ser ligadas imediatamente com o que Giannotti chama de "aparelhamento do Estado". Mais que isso, não parece possível ligar tais iniciativas do governo à eleição municipal de São Paulo, como pretende Giannotti. Compreende-se que Giannotti não queira ver um quadro da capacidade de Serra fora do jogo político. Compreende-se também que Giannotti torça pela vitória de Serra para impedir uma maior "direitização" do PSDB. Mas nada disso tem a ver com a administração da cidade de São Paulo. Se mantivermos a cabeça não só fria, mas também no lugar (na cidade de São Paulo, no caso), é preciso dar à gestão de Marta na prefeitura o que lhe cabe de direito. Essa gestão fez avançar significativamente um movimento que as gestões de Mário Covas e de Luiza Erundina não conseguiram completar: por palavras e atos, fazer da periferia parte integrante da cidade. Não se trata simplesmente de "fazer obras" na periferia, mas de a cidade aparecer como o todo que é, e não apenas como aquilo que os paulistanos chamam de "centro expandido da capital". Com Marta, a visão que São Paulo tem de si mesma se modificou: a periferia deixou de ser um "apêndice" da cidade que, às vezes, dá apendicite. Tal parece ser o grande avanço da gestão de Marta. É um ganho democrático e de solidariedade inestimável. O máximo a que Serra pode aspirar é fazer uma gestão tão boa quanto a de Marta. Mas, nesse caso, por que mesmo deveríamos torcer pela vitória de Serra? Marcos Nobre é professor de filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e pesquisador da área de filosofia do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Cesar Maia: A esquerda mecânica Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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