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A CULPA SÍRIA
O relatório da ONU sobre o
assassinato do premiê libanês
Rafik Hariri (1992-98 e 2000-04) em
fevereiro deste ano praticamente
confirma o que todos já sabiam. Importantes autoridades sírias e libanesas estão envolvidas no crime.
Há passagens bastante eloqüentes
no documento, como aquela que
afirma haver "razões para crer que a
decisão de assassinar [Hariri] não
poderia ter sido tomada sem o consentimento de autoridades de alto escalão da segurança síria". Com efeito, estamos falando de um regime
ditatorial lastreado em grande parte
numa polícia secreta onipresente e
onipotente. De resto, pouco antes de
ser morto, Hariri teve seus passos e
telefonemas monitorados por agentes de segurança sírios e libaneses.
Como se não bastasse, autoridades
de ambos os países ainda envidaram
esforços em barrar as investigações.
Oficialmente, a Síria nega, é claro,
todas as acusações. O mesmo fazem
as autoridades libanesas.
Paradoxalmente, o saldo desse despropositado assassinato político é
positivo. À morte de Hariri seguiu-se
uma onda de protestos da parte dos
libaneses que se opunham à influência da Síria no país. As manifestações, acrescidas da pressão da comunidade internacional -dos EUA em
especial- sobre Damasco, levaram
a Síria a retirar seus soldados do Líbano, pondo fim a 30 anos de presença militar. Em junho, eleitores libaneses foram às urnas para escolher um novo Parlamento. Fizeram-no com mais autonomia do que nos
pleitos anteriores.
A comunidade internacional deve
aproveitar a oportunidade das investigações conduzidas pela ONU -o
relatório final deve sair em dezembro- para cobrar mudanças de Damasco. Embora os soldados tenham
sido retirados, o serviço secreto sírio
continua atuando no Líbano. Diversos políticos libaneses, a começar do
próprio presidente do país, mantêm
fortes vínculos com Damasco. A democratização dos países árabes é um
processo longo e difícil. A melhor
forma de acelerá-lo é pressionando
por reformas.
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