São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2005

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A CULPA SÍRIA

O relatório da ONU sobre o assassinato do premiê libanês Rafik Hariri (1992-98 e 2000-04) em fevereiro deste ano praticamente confirma o que todos já sabiam. Importantes autoridades sírias e libanesas estão envolvidas no crime.
Há passagens bastante eloqüentes no documento, como aquela que afirma haver "razões para crer que a decisão de assassinar [Hariri] não poderia ter sido tomada sem o consentimento de autoridades de alto escalão da segurança síria". Com efeito, estamos falando de um regime ditatorial lastreado em grande parte numa polícia secreta onipresente e onipotente. De resto, pouco antes de ser morto, Hariri teve seus passos e telefonemas monitorados por agentes de segurança sírios e libaneses. Como se não bastasse, autoridades de ambos os países ainda envidaram esforços em barrar as investigações.
Oficialmente, a Síria nega, é claro, todas as acusações. O mesmo fazem as autoridades libanesas.
Paradoxalmente, o saldo desse despropositado assassinato político é positivo. À morte de Hariri seguiu-se uma onda de protestos da parte dos libaneses que se opunham à influência da Síria no país. As manifestações, acrescidas da pressão da comunidade internacional -dos EUA em especial- sobre Damasco, levaram a Síria a retirar seus soldados do Líbano, pondo fim a 30 anos de presença militar. Em junho, eleitores libaneses foram às urnas para escolher um novo Parlamento. Fizeram-no com mais autonomia do que nos pleitos anteriores.
A comunidade internacional deve aproveitar a oportunidade das investigações conduzidas pela ONU -o relatório final deve sair em dezembro- para cobrar mudanças de Damasco. Embora os soldados tenham sido retirados, o serviço secreto sírio continua atuando no Líbano. Diversos políticos libaneses, a começar do próprio presidente do país, mantêm fortes vínculos com Damasco. A democratização dos países árabes é um processo longo e difícil. A melhor forma de acelerá-lo é pressionando por reformas.


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