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CLÓVIS ROSSI
Prefiro o Delúbio
SÃO PAULO - Bem feitas as contas, o personagem mais honesto ou menos
desonesto nessa lama toda chama-se
Delúbio Soares. Sua carta-defesa,
conseguida por Mônica Bergamo, é
um primor de desfaçatez, mas também de candidez.
É até bem-humorada, no trecho em
que diz: "Respeito a ingenuidade.
Não sei, no entanto, de onde imaginavam que o dinheiro viria -se do
céu, num carro puxado por renas e
conduzido por um senhor vestido de
vermelho".
Lembra-me PC Farias, o Delúbio de
Fernando Collor. Depois que Collor
já havia sido afastado profilaticamente, PC obteve autorização judicial para viajar a Barcelona para investigar uma doença que se verificaria ser apnéia do sono.
Sua viagem coincidiu com o desmonte do apartamento que eu alugara para o período de correspondente
da Folha em Madri. O jornal aproveitou para me explorar e pedir que
fosse a Barcelona acompanhar os
passos de PC Farias.
Recebeu-me no esplendoroso Ritz,
num salão rococó, cheio de espelhos,
lustres, cristais. Queixou-se dos estragos que o escândalo provocara nos
seus negócios particulares. Imaginando-me tão cínico quanto ele, fiz
de conta que acreditava e pedi detalhes dos estragos.
Ele percebeu que eu não estava levando a sério suas lamúrias, teve um
acesso de total transparência e sinceridade, abriu os braços para mostrar
os lustres, os cristais, o esplendor do
Ritz e contra-perguntou: "Você acha
que quem está mal de vida pode se
hospedar num hotel como este?".
Trambiqueiro, mas transparente
no trambique, certo?
Para chegar a ser um PC na vida,
Delúbio só teria que ser sincero também sobre o caixa dois na campanha
de Lula, já provado pelo fato de Duda
Mendonça, o marqueteiro do presidente, ter recebido no exterior.
No mais, são personagens, no fundo, mais honestos que aqueles que
fingem que o caixa dois é para fazer a
revolução ou o bem do povo.
@ - crossi@uol.com.br
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