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CARLOS HEITOR CONY
Greve de voto
RIO DE JANEIRO - Se amanhã não for atingido por bala perdida nem sofrer um seqüestro-relâmpago, terei
uma ditosa manhã, passeando pela
Lagoa e vendo a plebe rude se esbofar
nas zonas eleitorais para decidir se
devemos abolir os termômetros para
acabar com as febres -não, não é
bem isso, o referendo é sobre outra
coisa, se devemos aprovar ou condenar o comércio de armas.
Já faz tempo que decidi não votar
em nada e em ninguém. Não precisam de minha opinião, nem mesmo
eu preciso dela. Deixei de votar até
mesmo na Academia, as coisas miúdas de lá, prêmios, moções disso ou
aquilo etc. Não me sinto em cima de
um muro. Simplesmente não vejo nenhum muro a separar a miséria humana.
O Estado, a mídia, os transparentes
de diversos tamanhos e feitios, sobretudo os éticos de carteirinha, acreditam que a soberana vontade do povo
pode acabar com a violência desde
que haja um plebiscito sobre a venda
de armas. São elas responsáveis ou
pela nossa segurança pessoal ou pela
violência que nos mata.
Os violentos não precisam de armas. Qualquer coisa, desde o insulto
até o espancamento ou a facada, tudo serve ao violento para exercer a
violência. Mesmo assim, embarcando na boa vontade do governo e da
sociedade em acabar com os males
que nos afligem, sugiro um plebiscito
sobre o fim das penitenciárias. Nelson Hungria, um dos maiores penalistas que o Brasil já teve, dizia que a
prisão é a universidade do crime.
Além disso, por melhores e mais numerosas que sejam as prisões, elas
não acabam, nunca acabaram com o
crime e a violência. Servem apenas
para gerar mais crimes.
Acabando-se com as penitenciárias
todas, acaba-se com o problema dos
presos, da superpopulação carcerária
e das rebeliões e poupa-se dinheiro
público que poderá ser aplicado em
shows, passeatas e eventos contra a
violência. Em havendo plebiscito sobre o assunto, o cronista talvez decida quebrar a sua greve de voto.
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