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CLÓVIS ROSSI
De brecadas e de trambiques
SÃO PAULO - Há dois aspectos
que chamam especialmente a atenção na crise: primeiro, a coincidência de tempos entre países ricos e
países emergentes. Antes, coincidiam as quedas nas Bolsas, mas a
atividade econômica tinha um ritmo diferente, melhor nos emergentes, chocha nos ricos.
Depois, veio o tempo da valorização do dólar, fenômeno global. Todas as moedas caem em relação ao
dólar, o que, no entanto, não serve
de consolo para os brasileiros afetados pelo ciclo de alta.
Agora, parece estar começando o
tempo da sincronia na queda da atividade. Pior: pode-se estar não
diante de uma desaceleração, mas
de uma freada brusca, ainda que
menos estrepitosa nos emergentes.
De todo modo, por aqui, o varejo
teve bom desempenho em setembro, mas, como assinala o Iedi (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial), "mais da metade
do desempenho positivo no nono
mês do ano decorreu das vendas do
setor automobilístico" (exatamente 58,2%).
Acontece que setembro é jurássico, na velocidade que a crise leva,
tanto que a primeira quinzena de
novembro mostrou queda de 20%
na venda de carros, resultado para
ninguém botar qualidades.
Se as vendas de carros puxam o
varejo todo, parece inevitável concluir que, já em novembro, dar-se-á
uma brecada, o que assusta quem,
como eu, imaginava que ao menos
até o Natal as coisas estariam
mornas.
A segunda coisa que preocupa está na coluna de David Brooks no
"New York Times": a recessão dos
anos 70 "produziu um cinismo que
nunca realmente se dissipou". Tanto que a fatia de estudantes que admitiam ter feito trambique saltou
de 34% em 1969 para 60% uma
década depois.
Como, no Brasil, não precisamos
de recessão para nos lambuzarmos
nos trambiques, imagino o que virá
com ela.
crossi@uol.com.br
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