São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

De brecadas e de trambiques

SÃO PAULO - Há dois aspectos que chamam especialmente a atenção na crise: primeiro, a coincidência de tempos entre países ricos e países emergentes. Antes, coincidiam as quedas nas Bolsas, mas a atividade econômica tinha um ritmo diferente, melhor nos emergentes, chocha nos ricos.
Depois, veio o tempo da valorização do dólar, fenômeno global. Todas as moedas caem em relação ao dólar, o que, no entanto, não serve de consolo para os brasileiros afetados pelo ciclo de alta.
Agora, parece estar começando o tempo da sincronia na queda da atividade. Pior: pode-se estar não diante de uma desaceleração, mas de uma freada brusca, ainda que menos estrepitosa nos emergentes.
De todo modo, por aqui, o varejo teve bom desempenho em setembro, mas, como assinala o Iedi (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial), "mais da metade do desempenho positivo no nono mês do ano decorreu das vendas do setor automobilístico" (exatamente 58,2%).
Acontece que setembro é jurássico, na velocidade que a crise leva, tanto que a primeira quinzena de novembro mostrou queda de 20% na venda de carros, resultado para ninguém botar qualidades.
Se as vendas de carros puxam o varejo todo, parece inevitável concluir que, já em novembro, dar-se-á uma brecada, o que assusta quem, como eu, imaginava que ao menos até o Natal as coisas estariam mornas.
A segunda coisa que preocupa está na coluna de David Brooks no "New York Times": a recessão dos anos 70 "produziu um cinismo que nunca realmente se dissipou". Tanto que a fatia de estudantes que admitiam ter feito trambique saltou de 34% em 1969 para 60% uma década depois.
Como, no Brasil, não precisamos de recessão para nos lambuzarmos nos trambiques, imagino o que virá com ela.

crossi@uol.com.br


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