São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2008

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FERNANDO RODRIGUES

Um banco "com esse nome"

BRASÍLIA - O Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa. A principal reclamação ouvida na praça foi só no campo da micropolítica. Lula teria dado uma ajuda indevida ao tucano José Serra. Não houve uma alma em Brasília explicando de maneira objetiva o mais importante: a real utilidade de um banco estatal federal sair por aí comprando outras instituições chapas-brancas.
O presidente do BB, Antonio Lima Neto, argumentou ser necessário levar a instituição ao topo do ranking de bancos brasileiros. Por quê? "Não se consegue imaginar o Banco do Brasil, com esse nome, não estando no bloco de liderança".
Seria mais barato mudar o nome do banco ou a sua função na sociedade. Mas o governo não está interessado em idéias novas. Tomou uma decisão política, quase supersticiosa. Felipe Massa usa a mesma cueca nas suas corridas de Fórmula 1. Presidentes brasileiros acham que serão fragilizados se o BB não for o maior banco de varejo. Inexiste no Brasil convicção a respeito da eficácia da competição promovida pelo livre mercado, com regras claras e justas.
Vigorou na operação BB-Nossa Caixa uma espécie de "fundamentalismo do mercado" ao contrário.
Agora, os cinco maiores bancos concentrarão 79% dos depósitos.
Em 1994, o percentual era 48%. Em vez de promover uma salutar fragmentação e estimular a concorrência, o Planalto optou por um simbolismo vazio. Quer ser o dono do maior banco do país. Perpetuará assim o clientelismo de bandinhas do interior e de cineastas fracassados em romaria a Brasília mendigando um caraminguá estatal do BB. Sempre haverá um diretor indicado pelo PT ou pelo PMDB disponível na cúpula da instituição para dar uma forcinha.
Lula deveria falar mais com Barack Obama. Talvez seja esse o modelo bancário sólido, evoluído e regulado do qual tanto se jacta.

frodriguesbsb@uol.com.br


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