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PLÍNIO FRAGA
O ladrão atende ao chamado
RIO DE JANEIRO - O jornal "Última Hora" estampou em setembro
de 1974: "O samba dúplex e pragmático de Julinho da Adelaide". Está certo, ninguém nunca entende
completamente os títulos dos cadernos culturais. A reportagem em
questão era uma entrevista com o
supostamente novo compositor,
que dizia: "Esse Chico Buarque
quer aparecer à minha custa".
Julinho da Adelaide era só um
heterônimo do próprio Chico Buarque para driblar a censura, mas está
atribuída a ele a autoria do samba
"Acorda, amor", em que o sujeito,
para escapar da dura (polícia), numa muito escura viatura, pede para
a mulher: "Chame o ladrão!".
Na semana passada, o presidente
Lula despendeu seu tempo comentando a gravata rosa com que o líder
comunitário da Rocinha, William
de Oliveira, apareceu em solenidade que liberava recursos para obras
no morro. William foi condenado
pela Justiça após a divulgação de
escutas em que pede dinheiro a traficantes da Rocinha e aceita manter
armamento deles no prédio da associação de moradores. Lula o chamou de "presidente da Rocinha",
inconscientemente aceitando a
idéia da existência de um estado paralelo sob suas barbas.
Pela narrativa de Ciro Gomes, deputado eleito pelo PSB e aliado do
presidente, William de Oliveira é a
companhia menos problemática de
Lula. "O governo de coalizão que
nós estamos montando é muito heterogêneo, por qualquer ângulo,
ideológico, até ético. Se não se construir uma hegemonia moral e intelectual bastante clara, o risco que há
é de que essa coalizão não se cimente, ou se cimente por linguagens intoleráveis", declarou Ciro, após encontro com o petista.
O discurso do ex-ministro parece
escrito por redator de caderno cultural, mas ele quis dizer o seguinte:
o governo chamou o ladrão para
compor a base aliada.
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