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CARLOS HEITOR CONY
O jeito carioca de ser
RIO DE JANEIRO - Calor de 40 graus, muito sol e muita praia, muita mulher bonita, bumbuns que não precisam de silicone -o Rio está na dele.
Junte tudo aos Rollings Stones, à proximidade do Carnaval e ao contraponto da briga na Rocinha entre traficantes e policiais -que todos acabem uns com os outros, para o bem
da cidade- e o carioca está vivendo
sua "finest hour", meio avacalhada,
mas gostosamente sua, intransferível.
Mesmo assim, me detive durante
horas examinando um grupo reunido na calçada de um botequim de
Ipanema. Três cariocas na faixa etária dos Stones (60 e tantos anos), sentados em barricas de chope provavelmente vazias, em torno de uma mesa
que era apenas uma barrica maior,
provavelmente cheia, para dar melhor sustentação.
Estão de short e camisas de malha
com a cara do Lula, do Tom Jobim e
a terceira com uma cena de algum
filme nacional que não identifico. Estão de shorts que apertam as barrigas, estufando-as até parecer que entraram em estado de absurda gravidez.
São obvia e agressivamente cariocas. Tomam um chope mais do que
óbvio, provavelmente quente. Num
prato, lingüiças aparentemente embanharadas e, ao contrário dos chopes, frias. Tampouco identifico a calçada do bar onde estão e usufruem a
manhã de domingo. Se fosse dia de
semana, estariam jogando cartas,
mas é dia do Senhor, tudo tem hora.
Não falam entre si nem com ninguém. De vez em quanto, um deles
grita para dentro do botequim: "Ô
Bem-te-vi, mais uma rodada, no capricho!".
Riem entre si, de nada mesmo, se
fosse de alguma coisa não ririam. A
nova rodada chega. "À sua!". Um outro corrige: "À nossa!". Um conhecido
passa, dá um cumprimento genérico,
na base do "boa vida!" ou "mais tarde a gente se vê".
Mais outro conhecido passa e saúda: "Tudo bem, Meireles!". Um deles
deve se chamar Meireles, talvez com
dois eles. Só sairão dali para o Caju,
que é o único cemitério confiável para um carioca..
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