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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Não é guerra, é massacre

SÃO PAULO - Já é lugar comum dizer que, na guerra, a primeira vítima é a verdade.
Mas o ataque norte-americano ao Iraque permitiu, talvez pela primeira vez na história, que se comprovasse, ao vivo e em cores, no mundo todo, como um presidente norte-americano mente descaradamente.
O mentiroso chama-se George Walker Bush. A mentira: dizer que que o objetivo do ataque era livrar "o mundo de um grave perigo".
O "grave perigo" foi exibido pela TV: soldados iraquianos em penca rendendo-se sem disparar um mísero tiro; patética defesa antiaérea, que nem cócegas faz em um inimigo que dispara grande parte de suas bombas e mísseis de muito longe; pouco ou nenhum uso de armas convencionais, quanto mais de armas químicas ou biológicas.
O que está havendo no Iraque não é uma guerra nem mesmo um ataque. É um massacre. É verdade que seres humanos, mortos ou vivos, pouco frequentam o noticiário sobre a guerra, mas o editorial de ontem desta Folha foi ao ponto ao dizer: "Por maiores que tenham sido os avanços da tecnologia bélica e por mais que tenha crescido a precisão das bombas e dos mísseis, o ser humano permanece suscetível a explosões de grande magnitude. É preciso desprezar a vida humana para lançar um ataque como o de ontem (sexta-feira) sobre uma cidade povoada por milhões de pessoas, a esmagadora maioria deles civis tão inocentes quanto os norte-americanos mortos nos atentados terroristas de 11 de setembro".
A desumanização do mundo sob o império da superpotência ensandecida aparece também nas comemorações, em meio à guerra, pela alta da Bolsa de Nova York.
Seria ingênua tolice esperar que o capitalismo e os capitalistas trocassem o lucro pelo luto, ainda mais se os mortos são "estrangeiros".
Mas, pelo menos, em respeito aos mortos norte-americanos, poderiam evitar a cerimônia de encerramento do pregão em que um cidadão com sorriso apalermado bate o martelo.


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