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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

O Brasil e a guerra

BRASÍLIA - Para a opinião pública, a condenação do Brasil, do governo e particularmente de Lula à guerra dos EUA contra o Iraque é ótima. Para gente experiente do empresariado e do próprio Itamaraty, nem tanto. Eles acham que o país não deveria mergulhar tão fundo na aliança com França, Alemanha e Rússia contra os EUA. Bastava reprovar e ponto. Para evitar retaliações.
Neste caso, porém, Lula não foi nem quis ser pragmático, ortodoxo. Seguiu o seu íntimo, a opinião pública e a velha posição petista contra a arrogância norte-americana. Alguém consegue imaginar o emocional Lula em cima do muro numa guerra tão escandalosa?
É claro que posições ousadas correspondem a risco. Confrontar a maior potência já é duro. Num momento de retração de capitais, duríssimo. O risco, porém, foi calculado.
O Brasil se coloca ao lado da União Européia contra o tal mundo unipolar dos EUA. Ganha mais status no complexo jogo internacional como um dos líderes de países emergentes e como interlocutor dos desenvolvidos. E nem por isso deve ficar à míngua na pauta comercial, por exemplo, dos EUA. O Brasil precisa dos EUA, mas eles também precisam do Brasil.
O preço que os EUA devem pagar por entrar na contramão da história, da ONU, da maioria dos governos e da opinião pública internacional ainda não está bem avaliado. Mas pequeno não será. Porque a guerra passa, mas o desgaste internacional e a disputa com a União Européia ficam. Os EUA vão jogar tudo na Alca para fazer frente à UE. E, sem o Brasil, não há Alca.
Enfim, Lula apostou alto ao se articular com Chirac e Schröder e repudiar tão veementemente a guerra de Bush. Se o risco de errar sempre existe, o de acertar parece bem maior. Até porque quem mais perde politicamente com essa guerra são os EUA. Além, é óbvio, dos milhões de pessoas bombardeadas por eles.


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