São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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PLÍNIO FRAGA

Auto-engano petista

RIO DE JANEIRO - O PT contabilizou que 5.418 filiados deixaram a legenda em 2005, o ano do "mensalão". Outras 29.583 pessoas decidiram se filiar no mesmo período. O partido vende a idéia de que saiu mais forte da crise do que entrou. Bom exemplo de auto-engano, e não o único.
Números dizem o que quisermos, desde que bem torturados. Pode-se dizer que 5.418 pessoas deixaram o PT indignadas com a falta de sintonia entre o discurso ético e sua prática e que 29.583 novos filiados viram possibilidade de ascensão profissional ao tentar iniciar uma carreira de Delúbio. Querem enriquecer.
O PT tem acumulado exemplos de desconexão com o mundo real. Seu Diretório Nacional aprovou, no sábado, um texto de análise política que se aproxima do devaneio. Fala que PSDB e PFL foram "surpreendidos" pela "capacidade de reação" petista. Que reação? Desde a crise do "mensalão", o PT se enrolou cada vez mais e está desmilingüindo nos movimentos sociais que lhe deram origem.
Prosseguem os marcianos -só podem ser de outro mundo- que escreveram a análise petista: "Por isso, (PSDB e PFL) retomaram a fúria denuncista, tentando levar novamente as atenções para esse campo, pois avaliam que perdem no campo programático e na comparação de governos", diz o texto.
Denuncismo, não! Esse sempre foi um bordão de corruptos e corruptores. Hoje está impregnando os antes apenas chatos documentos internos do PT. O caixa dois petista é fruto de denuncismo? E o dinheiro desviado de contratos públicos? E os carros importados e depósitos no exterior?
O PT precisa de um choque de realidade. Mas é cada vez mais difícil esperar que isso ocorra, como mostra o exemplo do presidente Lula. Num dia, aparece tocando tambor, noutro coloca um cocar na cabeça, como se vivesse na ilha da fantasia. Falta a Lula um indicador que lhe mostre o caminho para escapar da lama que cerca o Planalto.


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