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CLÓVIS ROSSI
O debate sai do armário
SÃO PAULO - A entrevista à Folha da
economista Maria da Conceição Tavares enveredou por um atalho que
pode encobrir o verdadeiro ponto da
história: o que está em discussão, ao
contrário do que dá a entender a entrevistada, não é focalização x universalização dos programas sociais.
A disputa de conceitos se dá, na verdade, em torno da política econômica no seu sentido mais amplo. Ou,
posto de outra forma: o receituário
até aqui seguido pelo governo do PT
era (e continua sendo) o único possível? Ou, ao contrário, é uma armadilha da qual o governo nunca mais
conseguirá se livrar?
Essa é a discussão que corria surda
no PT, nos círculos acadêmicos próximos do partido e nas entidades sociais idem.
Era e é esse o debate de fundo entre
os mal chamados "radicais" do partido e os ditos "moderados", e não as
divergências sobre pontos, mesmo
que essenciais, das reformas tributária e previdenciária.
Maria da Conceição apenas destapou a panela de pressão que zumbia
no interior do governo, do partido e
de seus inúmeros braços e companheiros de viagem.
Resta saber quem, agora, entra no
ringue contra ou a favor da sempre
vulcânica economista.
É até possível que a maioria dos petistas, dentro e fora do governo, prefira assobiar e olhar para o lado para
evitar um tema que já era complicado por natureza e tornou-se constrangedor pela maneira como Maria
da Conceição o tratou.
Não resolve coisa nenhuma fazer
de conta que não há o mal-estar ou o
debate surdo sobre a política econômica mais ou menos escancarado pela entrevista que a Folha publicou segunda-feira.
Cedo ou tarde, o PT terá de dizer o
que quer ser quando crescer como governo. Quanto mais cedo, melhor.
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