São Paulo, quinta-feira, 23 de abril de 2009

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Editoriais

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Vexame em Genebra

COUBE AO presidente do Irã, que já pregou a aniquilação de Israel e nega o Holocausto, abrir a Conferência contra o Racismo da ONU, em Genebra. Mahmoud Ahmadinejad, em campanha para reeleger-se em seu país no pleito de junho, não desperdiçou a oportunidade e renovou a provocação.
Israel, EUA e algumas outras nações boicotaram a reunião. Representantes europeus saíram da sala no auge dos despautérios propalados pelo líder persa. O Brasil -que no Conselho de Direitos Humanos da ONU se eximiu de condenar o regime genocida do Sudão e a ditadura norte-coreana- ficou sentado.
No dia seguinte, porém, o Itamaraty publicou uma nota com críticas ao discurso de Ahmadinejad. A fala do iraniano "diminui a importância de acontecimentos trágicos e historicamente comprovados, como o Holocausto". A observação, prossegue a nota, será reiterada à delegação de Ahmadinejad em sua visita ao Brasil, marcada para 6 de maio.
O recuo, de todo modo bem-vindo, talvez seja sintoma de algum amadurecimento na diplomacia do governo Lula. A relação com o Irã deveria ficar restrita à abertura de canais de negócios entre os dois países.
A economia iraniana, com 80% das vendas externas dependentes de petróleo e gás, importa quase tudo e tem a ganhar com a diversidade da produção brasileira -e vice-versa. De cada US$ 100 transacionados com o Irã em 2008, US$ 99 foram exportações brasileiras, embora as trocas com o país persa representem apenas três milésimos do comércio externo do Brasil.
Fora das negociações calcadas em interesses econômicos recíprocos, no entanto, a conduta do Itamaraty deveria responder a outros objetivos. Em nome do compromisso da sociedade brasileira com a tolerância e a democracia, as imposturas de Mahmoud Ahmadinejad precisam, nos locais e nos termos adequados, receber críticas.


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