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ELIANE CANTANHÊDE
Lavação de roupa suja
BRASÍLIA - A crise do Congresso
atravessou a rua ontem e estacionou no Supremo Tribunal Federal,
a mais alta Corte do país.
O grande escândalo de Brasília
nem foram as 1.885 viagens internacionais financiadas pela cota parlamentar em dois anos, como informou o site "Congresso em Foco",
mas o surpreendente -e chocante- bate-boca entre o presidente
do Supremo, Gilmar Mendes, e o
ministro Joaquim Barbosa. Ao vivo,
para todo o país assistir.
Era uma discussão técnica qualquer, os dois se desentenderam e
Barbosa perdeu a compostura, dizendo coisas assim para Gilmar:
"Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste país e não tem
condição alguma de me dar lição de
moral. Faça como eu, vá às ruas";
"Não está nas ruas, não. Está na
mídia, destruindo a credibilidade
do Judiciário brasileiro";
"O sr. não está tratando com seus
capangas de Mato Grosso, não!".
Enquanto Gilmar enfrentava os
excessos do delegado Protógenes e
se digladiava com o juiz De Sanctis e
com o procurador da República de
São Paulo Rodrigo De Grandis, era
uma coisa. Quando a acusação parte de um colega de toga, tudo muda
de patamar -e de figura.
Nós, os leigos, olhamos horrorizados a tudo isso, impotentes e com
uma séria desconfiança: que as gravíssimas acusações de Joaquim
Barbosa podem estar explodindo
uma crise político-partidária no Judiciário. Gilmar, apelidado de "líder
da oposição", trabalhou no Planalto
com FHC e foi indicado por ele para
o STF. Joaquim Barbosa, o primeiro negro do tribunal, foi uma das indicações de Lula.
A um ano e meio da eleição presidencial, os ânimos estão exaltados,
e, sem falar na crise econômica, a
crise ética do Legislativo se complementa com uma crise interna de
bom tamanho no Judiciário. O que
empurra tudo junto para o campo
do equilíbrio institucional, com
uma plateia de quase 200 milhões
de aturdidos sem saber, afinal, o
que está acontecendo neste país.
elianec@uol.com.br
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