São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Cinto de castidade

RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, o PSDB, partido do presidente da República, impede que os armários do governo sejam abertos e vistoriados. Não há suspeitas de que dentro deles haja esqueletos: há acusações formais, não desmentidas nem explicadas, mas o rolo compressor do poder impedirá a apuração dos fatos.
Sabe-se, desde o primeiro mandato de FHC, que tudo será permitido, menos que uma investigação se aproxime da própria pessoa presidencial -guardada como uma vestal no altar das conveniências.
Tivemos uma sucessão de escândalos que ficaram por isso mesmo, atribuídos ao nhenhenhém, ao disse-que-disse da oposição, dos cães raivosos que insistem em denegrir a imagem sadia da imprensa que defende o governo.
"Pasta rosa" -quem se lembra dela? Compra de votos por Sérgio Motta para a emenda da reeleição? Sem falar nos inúmeros casos criados por Eduardo Jorge, que estão sendo apurados como foi apurado o dossiê Cayman, ou seja, pelos instrumentos oficiais e oficiosos, os mesmos que revelaram certeira pontaria no caso de Roseana Sarney.
O que se depreende de tudo isso é que foi colocado um cinto de castidade em torno da pessoa presidencial, que, no meu entender, é honesta em termos de dinheiro, mas, pelo amor ao poder, topa tudo para se manter no topo da pirâmide.
Não gosto de citar pesquisas, mas a última que foi feita, dias atrás, revela que 63% da população brasileira acredita que o governo de FHC tolera a corrupção. (Não estou seguro se o "tolera" é o termo adequado. Parece que o termo empregado pelos pesquisadores foi mais forte).
Mesmo em casos menores, como o da violação do painel do Senado, valeu tudo enquanto o alvo preferencial foi formado por dois senadores que renunciariam ao mandato. O cinto de castidade funcionou para isolar a figura de FHC, que foi, como sabemos, um dos interessados naquela violação, que, no fundo, somente o beneficiou.



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