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CARLOS HEITOR CONY
Cinto de castidade
RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, o PSDB, partido do presidente da República, impede que os armários do
governo sejam abertos e vistoriados.
Não há suspeitas de que dentro deles
haja esqueletos: há acusações formais, não desmentidas nem explicadas, mas o rolo compressor do poder
impedirá a apuração dos fatos.
Sabe-se, desde o primeiro mandato
de FHC, que tudo será permitido,
menos que uma investigação se aproxime da própria pessoa presidencial
-guardada como uma vestal no altar das conveniências.
Tivemos uma sucessão de escândalos que ficaram por isso mesmo, atribuídos ao nhenhenhém, ao disse-que-disse da oposição, dos cães raivosos que insistem em denegrir a imagem sadia da imprensa que defende o
governo.
"Pasta rosa" -quem se lembra dela? Compra de votos por Sérgio Motta para a emenda da reeleição? Sem
falar nos inúmeros casos criados por
Eduardo Jorge, que estão sendo apurados como foi apurado o dossiê
Cayman, ou seja, pelos instrumentos
oficiais e oficiosos, os mesmos que revelaram certeira pontaria no caso de
Roseana Sarney.
O que se depreende de tudo isso é
que foi colocado um cinto de castidade em torno da pessoa presidencial,
que, no meu entender, é honesta em
termos de dinheiro, mas, pelo amor
ao poder, topa tudo para se manter
no topo da pirâmide.
Não gosto de citar pesquisas, mas a
última que foi feita, dias atrás, revela
que 63% da população brasileira
acredita que o governo de FHC tolera a corrupção. (Não estou seguro se
o "tolera" é o termo adequado. Parece que o termo empregado pelos pesquisadores foi mais forte).
Mesmo em casos menores, como o
da violação do painel do Senado, valeu tudo enquanto o alvo preferencial foi formado por dois senadores
que renunciariam ao mandato. O
cinto de castidade funcionou para
isolar a figura de FHC, que foi, como
sabemos, um dos interessados naquela violação, que, no fundo, somente o beneficiou.
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