São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Enquanto o PCC não volta...

SÃO PAULO - ...convém dar uma olhada no que está acontecendo nos mercados financeiros. Há um ambiente generalizado de, digamos, desconforto, que levou, por exemplo, a Bolsa de Londres a eliminar, com os resultados negativos de ontem, todos os ganhos do ano. As causas para os tremores externos variam muito, mas, no Brasil, o resumo da ópera parece simples: os investidores, vendo os juros norte-americanos subirem, correm do risco que representa colocar dinheiro em países ditos emergentes, mas que, na verdade, são incivilizados. É sintomático que Richard Lapper, editor de América Latina do britânico "Financial Times", relacione os índices dos mercados ao momento em que o país descobriu "o fracasso da política de segurança pública". Reclama ainda de um truque ("covarde", escreve) que passou inadvertido pela maioria: o governo mudou a metodologia de cálculo do déficit público, de tal forma que pode produzir um superávit primário de 4,1% do PIB e, mesmo assim, proclamar que alcançou os 4,25% que anuncia aos quatro ventos como economia para pagar os brutais juros da dívida. Tudo pode não ir além de sacolejos eventuais que logo se acomodam, sem ganhar as características de vendaval, tsunami, crise, ao contrário de momentos anteriores (faz tempo, aliás, que o mundo financeiro viaja em céu de brigadeiro, o que por si só deve servir como alerta). Aliás, é bom rezar para que os sacolejos sejam leves. Afinal, o presidente da República não tem a menor idéia de economia. Depende de assessores, de uma equipe econômica que até agora só fez aplicar o manual básico. Nunca navegou em águas turbulentas. Se tiver que fazê-lo, pode haver um trauma parecido com o causado pelo PCC.

@ - crossi@uol.com.br


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