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Fapesp, 45 anos
CARLOS VOGT
O Estado de SP constituiu um sistema público de ensino superior que lhe deu uma condição ímpar
na produção científica
DESDE A promulgação, em 23/5
de 1962, do decreto com que o
governador Carvalho Pinto
baixou os estatutos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), lá se vão 45 anos.
É pouco tempo se se considerar a
cronologia das instituições, e é muito
se a instituição for observada pela intensidade de suas ações e pela coerência de seu comportamento no cumprimento das missões institucionais
que pautaram a sua criação.
É o caso da Fapesp, que, mantendo
iguais os estatutos com que foi criada,
foi diversificando no decorrer dos
anos as suas linhas de programa de fomento, tendo como lema implícito de
sua atuação a observação pertinente
de Pasteur: não há ciência aplicada, o
que há são aplicações da ciência.
Em busca da possibilidade dessas
aplicações, afirmando, de um lado, a
fundamental importância da qualidade científica das propostas e, de outro,
sua relevância econômica e social, a
Fapesp tem uma palavra-chave para
todos os programas de fomento por
ela oferecidos. Pesquisa é a palavra-chave e é com ela que se abrem os caminhos de realização dos inúmeros
projetos financiados pela fundação.
Ao ser criada, há 45 anos, a Fapesp
criou também um princípio de identidade que recortou as linhas de um
processo dinâmico de identificação
entre a comunidade de pesquisadores
do Estado de São Paulo e a instituição,
logo traduzido numa cooperação intensa de demandas, de ofertas, de colaboração crítica e avaliativa, de produção do conhecimento, de sua difusão e divulgação.
Esse abraço compreensivo envolveu também a comunidade empresarial, reforçando as linhas de apoio, na
Fapesp, à pesquisa tecnológica.
Fecha-se, assim, o círculo de aberturas programáticas da fundação, das
bolsas à inovação e desta ao aumento
da capacidade de investimento na formação de competências e no desenvolvimento científico e tecnológico
do Estado como base de seu desenvolvimento econômico e social.
A Fapesp foi criada e tem, desde o
momento mesmo de sua criação, consagrada sua autonomia de gestão financeira como preceito constitucional. O Estado de São Paulo, além de
uma rede poderosa de institutos de
pesquisa, constituiu um sistema público de ensino superior formado pela
USP, pela Unicamp e pela Unesp que
lhe deu uma condição ímpar no cenário da produção científica nacional e
internacional. Acrescentem-se a isso
as universidades federais localizadas
no Estado -Ufscar e Unifesp- e está
pronto o quadro dessa distinção.
A Fapesp criou um paradigma para
o país. O CNPq (Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ), a Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) e a Finep (Financiadora de
Estudos e Projetos), que são marcos
nacionais das políticas de fomento à
pesquisa, começaram a contar, após a
criação da Fapesp, com instituições
estaduais similares nos propósitos,
complementares nas ações regionais,
embora ainda sem a sistemática regularidade de funcionamento eficaz que
caracteriza a instituição paulista.
Aqui o comportamento do governo
estadual também fez e faz a diferença.
A Fapesp não só tem, por Constituição, 1% da receita tributária do Estado como recebe o valor correspondente em duodécimos distribuídos ao
longo do ano, o que lhe dá invejável
capacidade de organização e planejamento na execução do orçamento.
Como a Fapesp financia, mas não
faz pesquisa, como esta é feita nas instituições de ensino superior e centros
de pesquisa, entre os quais se destacam fortemente as três universidades
públicas estaduais, o decreto governamental que, em 1989, consagrou a
autonomia de gestão financeira dessas instituições consagrou também o
sistema de pesquisa científica e tecnológica do Estado de São Paulo num
ponto de equilíbrio que hoje é modelo
para as políticas públicas de ensino
superior e pesquisa tanto no país
quanto no exterior.
Esse discernimento tem se mantido como uma característica constitutiva do governo de São Paulo, a tal
ponto que hoje é percebida e vivenciada por toda a sociedade como um
traço inerente e singular do próprio
Estado paulista.
Nos 45 anos da Fapesp, estamos comemorando não apenas a efeméride
de um aniversário -o que já seria justo e justificável, em se tratando da
Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo- mas o congraçamento e a união de todos nós -governo, universidades, empresas, sociedade como um todo- em torno do
ideal comum da produção do conhecimento e da condição feliz que ele estabelece para a geração da riqueza
econômica e social que todos almejamos para nosso Estado e nosso país.
CARLOS VOGT, poeta e lingüista, ex-reitor da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas), é coordenador do
Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
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