São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2008

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CLÓVIS ROSSI

O nome do problema

SÃO PAULO - Perguntado, em entrevista coletiva à margem da Cúpula de Lima, sobre a crise entre Colômbia e Equador, o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, respondeu: o problema não são os dois países, mas as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Pois é, se quiserem realmente dar futuro à Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que faz hoje sua cúpula em Brasília, os países da região têm que enfrentar o problema Farc de maneira decente.
É impraticável manter a dualidade. De um lado, tem-se o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que diz que "respeita" o que chama de "projeto político" das Farc.
De outro, tem-se o assessor diplomático do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, que diz que "repugnam ao governo brasileiro seqüestros, atentados terroristas, promiscuidade com o narcotráfico, não importam os valores políticos, ideológicos ou religiosos de que venham revestidos" (em artigo para a recém-lançada revista "Interesse Nacional").
À mesa da Unasul sentam-se, como se vê, um governante que tem "respeito" e outro que tem "repugnância" pelo mesmo ator, as Farc, causa da mais aguda crise dos últimos anos no subcontinente envolvendo três países (Venezuela, Colômbia e Equador), além, como é óbvio, de causa de "muito sangue e muita dor" na própria Colômbia, como disse Zapatero.
Ou, como prefere o salvadorenho Joaquín Villalobos, um dos líderes da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, que fez a guerra contra a ditadura, hoje consultor para assuntos de segurança: "O qualificativo de terroristas não é uma invenção norte-americana. É algo que as guerrilhas colombianas mereceram, por matar milhares de civis inocentes". Enquanto essa realidade ficar escamoteada, a Unasul será "sul", mas não será "una".


crossi@uol.com.br

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