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CLÓVIS ROSSI
O nome do problema
SÃO PAULO - Perguntado, em entrevista coletiva à margem da Cúpula de Lima, sobre a crise entre
Colômbia e Equador, o presidente
do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, respondeu: o
problema não são os dois países,
mas as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Pois é, se quiserem realmente dar
futuro à Unasul (União de Nações
Sul-Americanas), que faz hoje sua
cúpula em Brasília, os países da região têm que enfrentar o problema
Farc de maneira decente.
É impraticável manter a dualidade. De um lado, tem-se o presidente
da Venezuela, Hugo Chávez, que
diz que "respeita" o que chama de
"projeto político" das Farc.
De outro, tem-se o assessor diplomático do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, que diz que "repugnam ao governo brasileiro seqüestros, atentados terroristas,
promiscuidade com o narcotráfico,
não importam os valores políticos,
ideológicos ou religiosos de que venham revestidos" (em artigo para a
recém-lançada revista "Interesse
Nacional").
À mesa da Unasul sentam-se, como se vê, um governante que tem
"respeito" e outro que tem "repugnância" pelo mesmo ator, as Farc,
causa da mais aguda crise dos últimos anos no subcontinente envolvendo três países (Venezuela, Colômbia e Equador), além, como é
óbvio, de causa de "muito sangue e
muita dor" na própria Colômbia,
como disse Zapatero.
Ou, como prefere o salvadorenho
Joaquín Villalobos, um dos líderes
da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, que fez a guerra
contra a ditadura, hoje consultor
para assuntos de segurança:
"O qualificativo de terroristas
não é uma invenção norte-americana. É algo que as guerrilhas colombianas mereceram, por matar milhares de civis inocentes".
Enquanto essa realidade ficar escamoteada, a Unasul será "sul", mas
não será "una".
crossi@uol.com.br
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