|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
De heróis, ideias e cansaço
SÃO PAULO - A morna campanha
eleitoral chilena está sendo sacudida pelo surgimento de uma, digamos, terceira via entre a direita e a
"Concertación" (a coligação da Democracia Cristã com os socialistas,
entre outros sócios menores).
O nome é novo, mas o sobrenome
é histórico na esquerda chilena.
Trata-se de Marco Enríquez-Ominami, filósofo e cineasta. Seus sobrenomes correspondem ao pai,
Miguel Enríquez, líder histórico do
MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária, um dos raros grupos
cujo nome diz realmente a que
veio), morto durante a ditadura Pinochet, e ao padrasto, Carlos Ominami, também MIR, mas posteriormente convertido à ortodoxia.
Se falo dessa candidatura alternativa não é apenas por antiga afeição pelo Chile mas também porque
o documentário pelo qual Marco é
mais conhecido chama-se "Os Heróis Estão Cansados".
Nele, o cineasta-candidato analisa a fadiga tanto da "Concertación",
que governa há 10 anos, como da direita, que não renovou a agenda.
Acho que há algo disso no Brasil.
Não que os líderes em si pareçam
cansados. Lula, por exemplo, é extremamente vital. José Serra e Aécio Neves, seus teóricos contrapontos, e mesmo Fernando Henrique
Cardoso, o antecessor de Lula, não
andam propriamente fazendo tricô
em cadeiras de balanço.
A fadiga, na verdade, parece morar nos partidos que dominam a vida política nacional há pelo menos
15 anos. O PT parou de pensar desde que chegou ao poder. Seus intelectuais fazem mais feio: tudo o que
produziram desde então é a grotesca teoria da conspiração que não
houve.
O PSDB, como observou ontem
Vinicius Torres Freire, vive ao sabor de "marolas midiáticas". Qual é
o seu projeto de governo além de
preservar o Bolsa Família?
Não creio que o país precise de
heróis. Mas de ideias, lá isso precisa. Onde estão?
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Um Maracanã de distorções
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Ciro, erros e acertos Índice
|