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RUY CASTRO
Grandes Zés
RIO DE JANEIRO - Zé Rodrix,
que morreu ontem em São Paulo,
era ótimo sujeito, amigo carinhoso,
músico completo. Compôs "Casa
no Campo", hino dos que sonhavam
"cair fora" nos anos 70, fugir do
"sistema", abandonar as cidades.
Mas era coisa de artista, não fazia
parte de sua história íntima -carioca radicado em São Paulo, Zé me
parecia um homem urbano por
excelência.
Foi o maior contador de anedotas
que conheci: piadas curtas, cortantes, às centenas, "de salão" ou não,
que despejava em velocidade, fazendo as vozes mais hilariantes e
sempre sabendo a hora de parar.
Mas ninguém queria que ele parasse. Vimo-nos pela última vez em
novembro, em Porto Alegre, na Feira do Livro, onde fora lançar sua
"Trilogia do Templo" -três romances sobre a Maçonaria, em que, ali,
sim, saltou sobre o abismo, pondo o
coração em cada linha e chegando
com os dois pés ao outro lado.
Outro Zé muito querido, o jornalista José Onofre, morreu nesta terça-feira, na sua Porto Alegre natal.
Como editor de segundo caderno
em São Paulo, ele não queria saber
se um artigo estava grande demais
ou se não havia um "gancho" que o
justificasse. Se estivesse informativo, atraente e bem escrito, bastava
-o leitor iria com esse artigo até o
fim do café da manhã. O próprio Zé,
ao escrever, era um craque em imagens e símiles. Certa vez, ao descrever um uísque, disse que ele "sabia a
velhas escrivaninhas".
José Onofre foi decisivo em minha vida profissional num período
de difícil transição, em fins dos anos
80. Para ele escrevi centenas de artigos, sempre com o maior prazer.
Muito magro, os indefectíveis paletó e gravata pareciam deixá-lo incorpóreo; uma única vez, no Rio, ele
me apareceu ousadamente esportivo: de paletó -sem gravata.
Zé Rodrix tinha 61 anos; José
Onofre, 66.
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