São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2008

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PLÍNIO FRAGA

Parodoxo e capitulação

RIO DE JANEIRO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dispensou sua excelência, o leitor, de ir adiante nas páginas deste caderno: "Vou dizer uma coisa que talvez seja quase impensável para mim mesmo há muito tempo: eu não agüento mais ler a parte política dos jornais. Tudo são fatos banais ou fatos policiais", disse em entrevista ontem nesta Folha.
Se alguém precisava de atestado de liberação do enfadonho exercício de acompanhar o noticiário político, nada melhor que seja assinado pelo autor de "A Arte da Política", sociólogo estudado mundialmente pela teoria da dependência.
Em princípio, não há vinculação entre a ojeriza política de FHC com o despojamento dos privilégios do jornalismo na era da internet -que permitiu que a seleção e ordenação das informações deixasse ser competência exclusiva dos jornalistas.
"Começo a ler e pulo. Porque não vai me acrescentar nada. Quero entender mais os quadros. A parte econômica é mais interessante, a de discussão educacional, a de meio ambiente", declarou Fernando Henrique a Roberto Dias.
Não são poucos os leitores que comungam dessas idéias do ex-presidente. Mas sua reflexão pairaria no vazio se os leitores não fossem encontrá-la nesse espaço deveras aborrecedor. É um paradoxo.
As primárias norte-americanas mostraram que discursos e personagens novos podem revitalizar a democracia, com reflexos positivos sobre a cobertura jornalística.
A concorrência desenfreada dos novos meios, em vez de trazer multiplicidade, revela-se monótona para os jornais, com a uniformização das abordagens e do elogio ao banal. Os jornais sofrem com a solidificação da pasmaceira até então majoritariamente digital, sem se beneficiar da variedade de atores espalhados pela rede. E isso não é paradoxo, mas capitulação.


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