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CUIDADO COM A PIZZA
Os EUA estão prestes a lançar o
Sistema de Informação e Prevenção ao Terrorismo, o Tips, na sigla inglesa. Trata-se de um amplo
programa federal que incentiva a bisbilhotagem e a delação.
O Departamento de Justiça pretende recrutar como espiões milhões de
trabalhadores norte-americanos, a
maioria deles ligada a serviços domiciliares, como carteiros, reparadores
de TV a cabo e entregadores de pizza.
Sua missão será informar o FBI de
quaisquer atividades suspeitas de
que tomem conhecimento.
Num passado relativamente recente, esquemas como esse foram utilizados pela Gestapo da Alemanha nazista, pela KGB soviética, pela Stasi
da antiga Alemanha Oriental e, nos
próprios EUA, pelo Comitê de Atividades Antiamericanas durante a caça
às bruxas macarthista. Não é um histórico exatamente abonador.
Se de fato implementado, o Tips
constituirá mais um duro golpe contra as liberdades civis nos EUA. Uma
pessoa poderá tornar-se suspeita de
terrorismo apenas porque brigou
com o vizinho ou porque não deu a
gorjeta que o entregador de pizza
achava que merecia.
Um dos pontos que marcaram a
passagem da barbárie para o Direito
foi quando tribunais deixaram de
aceitar as denúncias anônimas e começaram a exigir que a acusação e os
acusadores estivessem claramente
identificados nos autos. O Tips é a
negação desse avanço. Todos tornam-se em princípio suspeitos e podem ter sua privacidade devassada
mesmo sem ordem judicial.
Mas o Tips obedece a uma lógica.
Recrutar espiões entre a população é
uma medida que combina com outras já tomadas pela Casa Branca a
pretexto de combater o terrorismo,
como a detenção secreta de suspeitos
e o seu julgamento sumário em tribunais de exceção. Decididamente,
são dias tristes para a América, que
foi, afinal, um dos berços das liberdades democráticas.
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