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ELIANE CANTANHÊDE
Esporte nacional
BRASÍLIA - A eleição finalmente chegou às ruas e aos bares, restaurantes,
padarias, supermercados e shoppings. O novo esporte nacional é meter o sarrafo nos candidatos.
Nos meios mais ligados à política
(funcionários, parlamentares, jornalistas...), não se consegue ficar mais
de dez minutos quieto sem alguém
comentar que o tucano José Serra é
chato, irascível, prepotente, arrogante, centralizador e mandão.
Ao que os mais antigos tucanos reagem dizendo que conhecem tão bem
Serra quanto Ciro Gomes (PPS). Serra é tudo isso, sim, mas Ciro não fica
atrás. Só não é chato, mas é tudo o
que se diz de Serra e mais: metido a
valentão. Desses desbocados que
saem logo dando murro nos outros.
Falar mal de Anthony Garotinho
(PSB) perdeu a graça, depois que ele
caiu para o quarto lugar nas pesquisas e só aparece "fazendo campanha"
no Rio, em carreatas de um carro só
(o dele), ou em Brasília, em cultos
evangélicos. Mas alguém sempre se
anima: "Esse é um cara-de-pau!".
Quando o papo chega a Lula (PT),
a abordagem é politicamente correta
e o ar chega a ser de uma certa reverência, até que um cricri qualquer resolve lembrar: "Só que ele teve 30
anos para estudar alguma coisa!".
Se este texto é para destruir os candidatos, um a um? Longe de mim. O
leque de candidaturas é o melhor
possível e eles todos têm legitimidade.
Serra e Lula têm história pessoal,
partidos fortes e um oportuno viés
nacionalista. Ciro é combativo, ousado e representa uma região importante e esquecida do país, o Nordeste.
Mesmo Garotinho não está falando
sozinho e tem todo o direito de concorrer. É um populista, vem de um
dos principais Estados e é ligado aos
evangélicos -parcela significativa
da sociedade.
Então, por que falam tão mal de todos e de cada um? Quase por obrigação, ou até para forçar a comparação
entre eles e com o atual. Depois de liquidar Ciro, Serra, Garotinho e até
Lula, a turma invariavelmente chega
a um consenso: "Ainda vamos sentir
muita falta do Fernando Henrique!".
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