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São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Em cartaz

SÃO PAULO - É farta a safra de espetáculos em cartaz na República. Pena que, salvo sádicos e masoquistas, pouca gente possa apreciar qualquer um dos shows em andamento.
Há o besteirol estrelado pelo ministro do Trabalho, Jaques Wagner, para quem, na questão do desemprego, "o alarme é maior do que o drama". Pimenta no olho dos outros é confete, não é, companheiro Wagner?
Pergunte aos 4.000 trabalhadores da Volks considerados "excedentes" se o drama deles é apenas alarme (só a palavra "excedente", aplicada a seres humanos, já é dramática).
Há o espetáculo da balbúrdia chamado reforma da Previdência. À esta altura, duvido que alguém que não seja funcionário público (e, mesmo assim, se muito atento) saiba direito o que está acontecendo com o projeto do governo, o recuo, o recuo do recuo, o recuo do recuo do recuo.
Duvido também que esteja claro, para quem não é afetado diretamente, quem é bandido e quem é mocinho nessa história toda.
Da mixórdia, salvou-se apenas o texto de Luís Nassif na edição de ontem desta Folha ("A satanização do servidor"), um espetáculo de bom senso e seriedade.
É razoável supor que o governo esteja gastando energia demais em um espetáculo que já dá para ver que não irá resolver o problema fiscal, que parece ser o ponto principal (talvez único) visado pelo projeto, por mais que o governo diga o contrário.
O único espetáculo realmente necessário, o do crescimento, não começa nunca. Pior: a economia real entra em estado agônico, bate o desespero em seus agentes e parece evidente que o governo não sabe o que fazer para levantar as cortinas.
Um palpite: poderia começar reduzindo os juros para 18%, o ponto em que estavam em julho passado, quando se iniciou o terrorismo financeiro contra a candidatura Lula.
Afinal, todos os efeitos do terrorismo no câmbio (e, por extensão, na inflação) e no risco-país já foram praticamente controlados.
Só falta a coragem de abandonar a aplicação burra do manual.


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