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CLÓVIS ROSSI
Em cartaz
SÃO PAULO - É farta a safra de espetáculos em cartaz na República. Pena
que, salvo sádicos e masoquistas,
pouca gente possa apreciar qualquer
um dos shows em andamento.
Há o besteirol estrelado pelo ministro do Trabalho, Jaques Wagner, para quem, na questão do desemprego,
"o alarme é maior do que o drama".
Pimenta no olho dos outros é confete,
não é, companheiro Wagner?
Pergunte aos 4.000 trabalhadores
da Volks considerados "excedentes"
se o drama deles é apenas alarme (só
a palavra "excedente", aplicada a seres humanos, já é dramática).
Há o espetáculo da balbúrdia chamado reforma da Previdência. À esta
altura, duvido que alguém que não
seja funcionário público (e, mesmo
assim, se muito atento) saiba direito
o que está acontecendo com o projeto
do governo, o recuo, o recuo do recuo,
o recuo do recuo do recuo.
Duvido também que esteja claro,
para quem não é afetado diretamente, quem é bandido e quem é mocinho nessa história toda.
Da mixórdia, salvou-se apenas o
texto de Luís Nassif na edição de ontem desta Folha ("A satanização do
servidor"), um espetáculo de bom
senso e seriedade.
É razoável supor que o governo esteja gastando energia demais em um
espetáculo que já dá para ver que
não irá resolver o problema fiscal,
que parece ser o ponto principal (talvez único) visado pelo projeto, por
mais que o governo diga o contrário.
O único espetáculo realmente necessário, o do crescimento, não começa nunca. Pior: a economia real entra
em estado agônico, bate o desespero
em seus agentes e parece evidente que
o governo não sabe o que fazer para
levantar as cortinas.
Um palpite: poderia começar reduzindo os juros para 18%, o ponto em
que estavam em julho passado,
quando se iniciou o terrorismo financeiro contra a candidatura Lula.
Afinal, todos os efeitos do terrorismo no câmbio (e, por extensão, na
inflação) e no risco-país já foram praticamente controlados.
Só falta a coragem de abandonar a
aplicação burra do manual.
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