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CLAUDIA ANTUNES
Penitência sem fim
RIO DE JANEIRO - O presidente Lula prometeu não renovar o acordo com
o FMI, que vence em dezembro. Palocci e Meirelles têm repetido que o
governo não irá renová-lo. Se o fizer,
como tem ocorrido desde 1998, o Brasil cairá na categoria dos que fazem
"uso prolongado" de recursos do organismo -reservada a países, geralmente miseráveis, que passam sete de
dez anos consecutivos sob a tutela do
Fundo Monetário.
Uma vez que ninguém pretende renovar o acordo, que é o que se afirma
aos cidadãos, é o caso de perguntar o
que faz aqui a missão chefiada pela
diretora de Assuntos Fiscais do FMI,
Teresa Ter-Minassian. Ontem, ela
discutiu em Brasília a proposta de
uma nova metodologia de cálculo
para o superávit primário que exclua
parte dos investimentos da conta de
despesas estatais -mas já adiantou
que o processo "vai levar algum tempo" e ainda depende de "ações do governo brasileiro".
Pelo tom de Teresa, seu tempo parece ser maior do que os cinco meses
que restam até dezembro. Depois disso, o acordo com o FMI deixará de vigorar. O governo, imaginariam os
crédulos, poderá então calcular como
bem entender o superávit que paga
os juros da dívida e manter por conta
própria a política econômica que garante adotar por convicção de que é a
melhor, sem imposição externa.
Mas não é isso que vai acontecer,
pois os cidadãos estão sendo outra
vez passados para trás em seu direito
à transparência. Mesmo sem informar, a equipe econômica indica que
fará tudo, sim, para prolongar a dependência brasileira do aval do Fundo, talvez ressuscitando um tipo de
trato pelo qual só tiraria dinheiro em
caso de emergência.
Os governantes convertidos à ortodoxia parecem convencidos de que é
necessário obter de joelhos no milho
uma confiança que não chegará
nunca, porque sempre vai haver uma
reza a mais na penitência -a última
delas é a desvinculação das receitas
orçamentárias.
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