São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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GOLPE ALIADO

Ao estilo das antigas ditaduras latino-americanas, o general Pervez Musharraf, presidente do Paquistão, baixou um pacote de 29 emendas à Constituição que lhe dá poderes ditatoriais. Trata-se de um golpe de Estado, ainda que a imprensa dos EUA prefira usar eufemismos para qualificar a mais recente ação de seu principal aliado na Ásia Central.
O "putsch" não surpreende. É oportuno lembrar que Musharraf já chegara ao poder, em 1999, por meio de um golpe desferido contra o governo do então premiê Nawaz Sharif. O novo atentado institucional se fez "necessário" pelo crescente descontentamento de setores da sociedade paquistanesa com o apoio que o país dá aos EUA desde o 11 de setembro.
Musharraf, na verdade, depende de um delicado equilíbrio para manter-se no cargo. De um lado, está Washington exigindo que o Paquistão colabore com suas operações militares na região. Na atual situação geopolítica, é praticamente impossível para o general dizer não ao Pentágono. Do outro lado estão as forças ultranacionalistas do Paquistão, que dominam o corpo das Forças Armadas e boa parte da elite econômica. Elas são, em boa medida, responsáveis pela criação do Taleban no vizinho Afeganistão e vêem com profunda desconfiança a colaboração entre seu governo e a Casa Branca. No meio disso tudo está a Índia, país com o qual o Paquistão vive em estado de guerra semipermanente.
Ainda que os ultranacionalistas provavelmente não tenham força suficiente para derrubar Musharraf, eles conservam bastante influência. É difícil governar contra eles. O presidente tem conseguido com alguma habilidade mantê-los comportados. Eleições, contudo, sempre colocam riscos para ditadores. Com o golpe, Musharraf como que neutraliza surpresas. Uma das principais emendas baixadas restaura o poder do presidente de dissolver o Congresso.
Como nos velhos tempos da Guerra Fria, Washington não condena os golpes que lhe interessam.


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