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GOLPE ALIADO
Ao estilo das antigas ditaduras
latino-americanas, o general
Pervez Musharraf, presidente do Paquistão, baixou um pacote de 29
emendas à Constituição que lhe dá
poderes ditatoriais. Trata-se de um
golpe de Estado, ainda que a imprensa dos EUA prefira usar eufemismos
para qualificar a mais recente ação de
seu principal aliado na Ásia Central.
O "putsch" não surpreende. É
oportuno lembrar que Musharraf já
chegara ao poder, em 1999, por meio
de um golpe desferido contra o governo do então premiê Nawaz Sharif.
O novo atentado institucional se fez
"necessário" pelo crescente descontentamento de setores da sociedade
paquistanesa com o apoio que o país
dá aos EUA desde o 11 de setembro.
Musharraf, na verdade, depende de
um delicado equilíbrio para manter-se no cargo. De um lado, está Washington exigindo que o Paquistão
colabore com suas operações militares na região. Na atual situação geopolítica, é praticamente impossível
para o general dizer não ao Pentágono. Do outro lado estão as forças ultranacionalistas do Paquistão, que
dominam o corpo das Forças Armadas e boa parte da elite econômica.
Elas são, em boa medida, responsáveis pela criação do Taleban no vizinho Afeganistão e vêem com profunda desconfiança a colaboração entre
seu governo e a Casa Branca. No
meio disso tudo está a Índia, país
com o qual o Paquistão vive em estado de guerra semipermanente.
Ainda que os ultranacionalistas
provavelmente não tenham força suficiente para derrubar Musharraf,
eles conservam bastante influência.
É difícil governar contra eles. O presidente tem conseguido com alguma
habilidade mantê-los comportados.
Eleições, contudo, sempre colocam
riscos para ditadores. Com o golpe,
Musharraf como que neutraliza surpresas. Uma das principais emendas
baixadas restaura o poder do presidente de dissolver o Congresso.
Como nos velhos tempos da Guerra Fria, Washington não condena os
golpes que lhe interessam.
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