São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Em busca de candidato

MONTEVIDÉU - Cruzei na noite de terça-feira com dois reluzentes nomes do "business" tupiniquim que vieram a Montevidéu para uma reunião com seus congêneres uruguaios e cujas identidades preservo.
Tentei fazer perguntas, velho e insuperável hábito profissional, mas nem tive tempo para sacar do coldre a primeira questão. Um depois do outro, os empresários perguntaram o que deveriam fazer no segundo turno da eleição presidencial brasileira (ficou claro, embora implícito, que, no primeiro turno, estão com José Serra e não abrem).
Disse-lhes que, perdidas as ilusões de que alguém consiga resolver os problemas da pátria no que me resta de vida útil, passei a votar pragmaticamente (ou fisiologicamente, dirão os inimigos, com certa razão): o candidato que me oferecer a melhor chance de atender o telefone, se e quando eu telefonar para o Palácio do Planalto, leva meu voto.
Não resolve os problemas do país, mas resolve o meu, que é o de obter informações e/ou opiniões e repassá-las para o leitor.
Acrescentei que nenhum dos quatro candidatos principais me assusta, diferentemente do que ocorria na eleição de 1989, na qual Fernando Collor era, visivelmente, um perigo público e, não obstante, tivera o apoio em massa do empresariado.
Não creio que meu critério de seleção de candidato entusiasme empresários. Eles historicamente tiveram acesso fácil ao rei e nada leva a crer que será diferente a partir de 2003. Não é por aí que se inquietam.
Mas a conversa foi muito reveladora do estado de ânimo dos homens de negócio. A grande maioria tem um candidato (Serra), mas parece já não acreditar nas suas chances. E, embora Luiz Inácio Lula da Silva ainda lhes provoque urticária, já não o rejeitam tanto quanto antes a ponto de sustentarem qualquer anti-Lula que se apresente.
Por fim, não conseguem confiar em Ciro Gomes o suficiente para votar nele ou para apoiá-lo.
Parece uma situação inédita -e rica do ponto de vista político.


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