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São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Haja paciência

SÃO PAULO - O ideal, para qualquer político, é ser amado pelo tal de povo, como é óbvio. Mas pode sobreviver mesmo que seja odiado, desde que o ódio não se generalize.
O que não pode é um líder político ser folclorizado. Esse é o risco que corre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o uso abusivo de metáforas, que já virou quadro do "Casseta e Planeta". A folclorização corrói lenta mas mortalmente a imagem.
O pior é que parece haver, no Palácio do Planalto, um bando de gente que acha genial toda e qualquer metáfora do presidente.
Algumas até são boas, mas a grande maioria, convenhamos, não diz nada ou é pura bobagem.
A mais recente, por exemplo, diz que o "apressado" que vai a um rodízio come mais maionese que picanha. Não. Quem vai a um rodízio e come maionese o faz não por pressa, mas por fome.
Transportada a metáfora para a vida brasileira, o pessoal come a maionese da educação precária, da saúde lamentável, do emprego merreca, da renda insuficiente, não por pressa, mas porque não lhe é oferecida, nunca, a picanha da boa educação, saúde, renda etc. e tal.
Se é para fazer metáforas, que pelo menos o presidente melhore a qualidade delas.
Ou não abuse do pedido de paciência, tema recorrente das metáforas, inclusive daquela outra tolice de que leva nove meses para nascer, sei lá quanto tempo para começar a andar e por aí vai.
O brasileiro está esperando picanha há 500 anos e tem o direito de reclamar, até porque faz 23 anos (e não só oito meses) que o PT de Lula promete carne boa. Deveria, portanto, saber como entregá-la.
Pedir paciência no primeiro mês, no segundo, vá lá. Repetir o pedido no terceiro, no quarto, ainda vá lá. Mas, ao final do oitavo, começa a ficar, no mínimo, cansativo.


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