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CLÓVIS ROSSI
Haja paciência
SÃO PAULO - O ideal, para qualquer político, é ser amado pelo tal de povo,
como é óbvio. Mas pode sobreviver
mesmo que seja odiado, desde que o
ódio não se generalize.
O que não pode é um líder político
ser folclorizado. Esse é o risco que corre o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, com o uso abusivo de metáforas, que já virou quadro do "Casseta
e Planeta". A folclorização corrói lenta mas mortalmente a imagem.
O pior é que parece haver, no Palácio do Planalto, um bando de gente
que acha genial toda e qualquer metáfora do presidente.
Algumas até são boas, mas a grande maioria, convenhamos, não diz
nada ou é pura bobagem.
A mais recente, por exemplo, diz
que o "apressado" que vai a um rodízio come mais maionese que picanha. Não. Quem vai a um rodízio e
come maionese o faz não por pressa,
mas por fome.
Transportada a metáfora para a
vida brasileira, o pessoal come a
maionese da educação precária, da
saúde lamentável, do emprego merreca, da renda insuficiente, não por
pressa, mas porque não lhe é oferecida, nunca, a picanha da boa educação, saúde, renda etc. e tal.
Se é para fazer metáforas, que pelo
menos o presidente melhore a qualidade delas.
Ou não abuse do pedido de paciência, tema recorrente das metáforas,
inclusive daquela outra tolice de que
leva nove meses para nascer, sei lá
quanto tempo para começar a andar
e por aí vai.
O brasileiro está esperando picanha há 500 anos e tem o direito de reclamar, até porque faz 23 anos (e não
só oito meses) que o PT de Lula promete carne boa. Deveria, portanto,
saber como entregá-la.
Pedir paciência no primeiro mês,
no segundo, vá lá. Repetir o pedido
no terceiro, no quarto, ainda vá lá.
Mas, ao final do oitavo, começa a ficar, no mínimo, cansativo.
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