São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Allons, enfants

SÃO PAULO - Paulo Rabello de Castro, um dos mais instigantes pensadores liberais, definiu recentemente a eleição de outubro no Brasil como uma escolha entre "mais do mesmo" e "o mesmo sem mais", em sua coluna nesta Folha. Se fosse na Suíça, tudo bem. Mesmo que não se mova uma folha de árvore nos próximos cinco séculos, a vida por lá é boa e mansa. Mas o Brasil não pode se dar ao luxo do tédio em qualquer debate, porque, a rigor, todos os problemas estão por serem equacionados. Avançou-se nos últimos anos, é verdade, mas são avanços presos por alfinetes. A culpa da mesmice é dos candidatos? Sim, em primeiro lugar. Mas a sociedade organizada também parece anestesiada. Mais que isso, parece morta. Que tal seguir o exemplo da França, que não tem nem de longe os problemas do Brasil? Lá, relata o jornal "Le Monde" de ontem, o Círculo dos Economistas vai lançar, no mês que vem, uma espécie de programa de duas faces (direita e esquerda), com vistas à eleição presidencial (atenção, a presidencial francesa é apenas em 2007). Conterá perguntas que só cabem no debate francês, mas também algumas que são universais, como "o que tributar: o capital, o trabalho ou o consumo?". A justificativa dos economistas cai como luva para o Brasil. Primeiro, porque a idéia é "clarear o debate da política econômica na França" (o Brasil precisa de ainda mais clareza). Segundo, porque "não temos a intenção de deixar os políticos dizerem qualquer coisa", afirma Jean-Hervé Lorenzi, presidente do Círculo. O Brasil é o território livre para políticos (entre outros) lançarem qualquer bobagem, qualquer mentira, qualquer número, qualquer platitude, sem que haja um confronto com a realidade ou com o contraditório imediato. Quem se anima a imitar os franceses?

crossi@uol.com.br


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