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CLÓVIS ROSSI
O cassino mira a Rússia
MADRI - O presidente George
Walker Bush esperneia, grita,
ameaça -e as tropas russas mexem-se com provocadora lentidão
na retirada da Geórgia. A Otan (Organização do Tratado do Atlântico
Norte, criada justamente para fazer
frente à então União Soviética)
ameaça, mas nenhum soldado
russo treme.
O único poder que faz tremer a
Rússia é o do dinheiro. Desde o início da guerra, o país perdeu US$
16,4 bilhões em reservas, a maior
sangria desde o colapso de 1998,
ano em que a Rússia deu o calote
(que, por sua vez, foi o gatilho para o
colapso do real meses depois).
É verdade que a sangria não foi
provocada apenas pela guerra. Há
também o temor de que o sufoco
creditício que ocorre nos Estados
Unidos e na Europa esteja chegando veloz e assustadoramente à Rússia. Mas, de todo modo, até Gennady Melikyan, vice-presidente do
Banco Central, disse ao jornal britânico "Financial Times" que a queda
de reservas havia sido provocada
pela "situação política", eufemismo
para a guerra.
É mais uma evidência de que os
poderes de fato remanescentes no
planeta não estão na Casa Branca,
em Pequim, em Moscou, mas, sim,
em Wall Street e nas demais ruas
em que se localizam os braços do
tentacular mundo financeiro.
Há um remoto parentesco entre a
Rússia e o que George Soros disse à
Folha durante a campanha eleitoral de 2002 no Brasil: "Ou Serra ou
o caos", provocado pela especulação dos agentes financeiros. "Não é
antidemocrático?", perguntei, então, tolinho como sempre. "É -respondeu Soros-, mas é como na Roma antiga: votam os patrícios" (no
caso, os meninos do mercado).
No Brasil, Lula ganhou, aplacou a
sede de sangue das piranhas e tudo
se acalmou. Na Rússia, basta dar lucro aos apostadores que ninguém
vai ligar para Geórgia, Ossétia do
Sul, Putin, Bush, Medvedev, Sarkozy ou quem quer que seja.
crossi@uol.com.br
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