São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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CLÓVIS ROSSI

O cassino mira a Rússia

MADRI - O presidente George Walker Bush esperneia, grita, ameaça -e as tropas russas mexem-se com provocadora lentidão na retirada da Geórgia. A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, criada justamente para fazer frente à então União Soviética) ameaça, mas nenhum soldado russo treme.
O único poder que faz tremer a Rússia é o do dinheiro. Desde o início da guerra, o país perdeu US$ 16,4 bilhões em reservas, a maior sangria desde o colapso de 1998, ano em que a Rússia deu o calote (que, por sua vez, foi o gatilho para o colapso do real meses depois).
É verdade que a sangria não foi provocada apenas pela guerra. Há também o temor de que o sufoco creditício que ocorre nos Estados Unidos e na Europa esteja chegando veloz e assustadoramente à Rússia. Mas, de todo modo, até Gennady Melikyan, vice-presidente do Banco Central, disse ao jornal britânico "Financial Times" que a queda de reservas havia sido provocada pela "situação política", eufemismo para a guerra.
É mais uma evidência de que os poderes de fato remanescentes no planeta não estão na Casa Branca, em Pequim, em Moscou, mas, sim, em Wall Street e nas demais ruas em que se localizam os braços do tentacular mundo financeiro.
Há um remoto parentesco entre a Rússia e o que George Soros disse à Folha durante a campanha eleitoral de 2002 no Brasil: "Ou Serra ou o caos", provocado pela especulação dos agentes financeiros. "Não é antidemocrático?", perguntei, então, tolinho como sempre. "É -respondeu Soros-, mas é como na Roma antiga: votam os patrícios" (no caso, os meninos do mercado).
No Brasil, Lula ganhou, aplacou a sede de sangue das piranhas e tudo se acalmou. Na Rússia, basta dar lucro aos apostadores que ninguém vai ligar para Geórgia, Ossétia do Sul, Putin, Bush, Medvedev, Sarkozy ou quem quer que seja.

crossi@uol.com.br


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