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FERNANDO RODRIGUES
Brasília, Obama e McCain
BRASÍLIA - Em março último,
Lula leu uma versão traduzida do
discurso de Barack Obama sobre a
questão racial. O presidente gostou.
Passou a recomendar o texto a
quem ia ao seu gabinete: "Já leu o
discurso do Obama? É muito bom".
Há uma torcida generalizada pela
vitória do democrata Barack Obama entre os integrantes do alto escalão no governo federal.
É nítida a expressão de alegria de
ministros e políticos ao se referirem à possibilidade de Obama derrotar John McCain. Quando, nesta
semana, o republicano passou (na
margem de erro) o democrata em
uma pesquisa de opinião, nos corredores do Congresso ouviam-se frases como "os americanos são muito
conservadores".
É difícil identificar por completo
o DNA dessa percepção distorcida
no Brasil sobre a política norte-americana -sobretudo na disputa
eleitoral atual. Resquícios da ditadura militar (1964-1985) explicam
em parte a implicância com os EUA
e a torcida pelos democratas. No
mais, sobra o senso comum, uma
mescla de desinformação com preconceito barato. É compreensível a
maioria dos brasileiros embarcarem nesse tipo de canoa.
O exótico nesse cenário são pessoas do alto escalão federal acreditarem numa mudança fenomenal
nos EUA com a eleição de Obama,
enquanto McCain seria apenas o
continuísmo lúgubre da política belicosa fracassada de George W.
Bush. Não ocorrerá, por óbvio, nem
uma coisa nem outra.
Obama representará um avanço
simbólico grande por ser negro.
McCain, por outro lado, é a síntese
de uma ala republicana liberal, bem
diferente dos últimos três presidentes do mesmo partido (Reagan,
Bush pai e Bush filho).
Como os políticos brasileiros já
não entendem muito do que se passa por aqui, seria demais esperar
deles uma compreensão razoável
da conjuntura eleitoral nos EUA.
frodriguesbsb@uol.com.br
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