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RUY CASTRO
Plataformas ousadas
RIO DE JANEIRO - Há momentos do dia em que você não está na
plena posse de seus sentidos. Ao
acordar, por exemplo. Leva alguns
minutos para o cérebro chegar a um
estado de alerta em níveis aceitáveis. Esta semana, ao ser despertado pelo rádio no horário da propaganda eleitoral gratuita, ouvi um
candidato a vereador prometendo
que iria lutar pelo combate à ejaculação precoce.
Num primeiro instante, ainda
com um déficit de neurônios em
ação, achei que era uma plataforma
original. De fato, nada mais frustrante para a maioria dos eleitores
do que a sensação de urgência e descontrole típica de quem sofre daquele problema. Um vereador que
se empenhasse na erradicação dessa disfunção sexual não só estaria
cumprindo sua obrigação de homem público, ou seja, trabalhando
em prol da comunidade, como servindo de referência para seus pares
na política.
Sim, porque, de repente, outro
candidato a vereador poderia se
empolgar e prometer destinar recursos para a pesquisa da cura definitiva do lumbago. Um colega seu,
mais ambicioso, dedicaria seu mandato a tentar deter o deslocamento
das placas de gelo que estão se desprendendo do Círculo Ártico. E um
terceiro, modesto, se disporia a promover rifas e tômbolas em sua região para financiar a busca do avião
do "band-leader" Glenn Miller, desaparecido sobre o canal da Mancha desde a Segunda Guerra.
O rádio continuou falando, e só
então me dei conta de que, assim
que o dito vereador entrara no ar,
eu voltara a dormir e tinha acordado no meio de uma entrevista com
um médico sobre ejaculação precoce. Como não me dera conta de que
cochilara, acordei achando que era
a mesma pessoa no ar.
Errinho à-toa. Por ignorância ou
má-fé, nossos candidatos à vereança vivem mesmo prometendo coisas que não são de sua conta.
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