|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAMISAS-DE-FORÇA
A evolução do cenário econômico, tanto nacional quanto
mundial, parece confirmar a cada dia
os prognósticos de uma longa era de
crescimento baixo e mesmo de desorganização de inúmeros setores.
Aliás, é a combinação desses dois aspectos que agrava a crise atual.
Uma recessão pura e simples, clássica, mesmo uma depressão econômica são processos conhecidos. Em
geral, esses fenômenos assumem
duas formas. Em alguns casos, trata-se de ajustes periódicos, cíclicos, em
que desequilíbrios entre oferta e procura exigem cortes de investimentos
e demissões. Em outros casos, certamente os mais graves, quando ocorre uma depressão, é toda uma forma
de produzir que se esgota.
São episódios que coincidem com
crises geopolíticas e mesmo de hegemonia de potências internacionais,
como se viu ao final do ciclo colonial,
na "débâcle" da "Pax Brittanica" ou
na crise de 29, último episódio de
grandes proporções e uma das causas da Segunda Guerra.
A situação econômica atual é menos grave, mas, ao mesmo tempo,
produz inquietações inéditas, perguntas sem resposta.
Não se trata de uma crise pequena,
conjuntural. Nem parece estar em
questão a hegemonia dos Estados
Unidos. Não há esgotamento final
de um sistema de produção (ao contrário, nunca se observaram tantas
inovações tecnológicas).
O quebra-cabeça é inusitado porque a desaceleração das principais
economias do planeta ocorre junto
com uma assombrosa desorganização dos mercados.
A desmoralização das regras do jogo financeiro e contábil nos EUA, a
guerra suja do protecionismo nos
países mais ricos, a virtual paralisia
dos investimentos de grupos econômicos globalizados e a incapacidade
crônica das políticas econômicas
formam um cenário desalentador.
No passado, houve crises superadas pela ação do Estado ou pela
emergência de inovações tecnológicas. Em casos mais graves, a percepção de decadência de um regime logo dava espaço à identificação de novas potências, novos líderes econômicos e geopolíticos.
O drama da situação atual está na
sensação de que a economia global
prendeu-se a uma camisa-de-força
sem que se saiba quem, como ou
quando será possível ingressar numa
nova era de prosperidade.
Texto Anterior: Editoriais: INDEFINIÇÃO Próximo Texto: Editoriais: PRETEXTO IRAQUIANO Índice
|