São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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CAMISAS-DE-FORÇA

A evolução do cenário econômico, tanto nacional quanto mundial, parece confirmar a cada dia os prognósticos de uma longa era de crescimento baixo e mesmo de desorganização de inúmeros setores. Aliás, é a combinação desses dois aspectos que agrava a crise atual.
Uma recessão pura e simples, clássica, mesmo uma depressão econômica são processos conhecidos. Em geral, esses fenômenos assumem duas formas. Em alguns casos, trata-se de ajustes periódicos, cíclicos, em que desequilíbrios entre oferta e procura exigem cortes de investimentos e demissões. Em outros casos, certamente os mais graves, quando ocorre uma depressão, é toda uma forma de produzir que se esgota.
São episódios que coincidem com crises geopolíticas e mesmo de hegemonia de potências internacionais, como se viu ao final do ciclo colonial, na "débâcle" da "Pax Brittanica" ou na crise de 29, último episódio de grandes proporções e uma das causas da Segunda Guerra.
A situação econômica atual é menos grave, mas, ao mesmo tempo, produz inquietações inéditas, perguntas sem resposta.
Não se trata de uma crise pequena, conjuntural. Nem parece estar em questão a hegemonia dos Estados Unidos. Não há esgotamento final de um sistema de produção (ao contrário, nunca se observaram tantas inovações tecnológicas).
O quebra-cabeça é inusitado porque a desaceleração das principais economias do planeta ocorre junto com uma assombrosa desorganização dos mercados.
A desmoralização das regras do jogo financeiro e contábil nos EUA, a guerra suja do protecionismo nos países mais ricos, a virtual paralisia dos investimentos de grupos econômicos globalizados e a incapacidade crônica das políticas econômicas formam um cenário desalentador.
No passado, houve crises superadas pela ação do Estado ou pela emergência de inovações tecnológicas. Em casos mais graves, a percepção de decadência de um regime logo dava espaço à identificação de novas potências, novos líderes econômicos e geopolíticos.
O drama da situação atual está na sensação de que a economia global prendeu-se a uma camisa-de-força sem que se saiba quem, como ou quando será possível ingressar numa nova era de prosperidade.


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