São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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PRETEXTO IRAQUIANO

Ele tem armas de destruição em massa, representa uma ameaça para seus vizinhos e persegue implacavelmente aqueles que ousam lhe fazer oposição. A enumeração acima, além de valer para Saddam Hussein, também serve para qualificar, por exemplo, Jiang Zemin, dirigente máximo da China, Pervez Musharraf, presidente do Paquistão, e Nursultan Nazarbaiev, do Casaquistão.
Por que os EUA ameaçam Saddam Hussein com ataques militares enquanto outros dirigentes, que incorrem em alguns dos mesmos delitos, são considerados aliados de Washington, com direito a ajuda econômica ou "status" de parceiro comercial preferencial? Essa é uma pergunta que comporta várias respostas. É certo, porém, que o desejo de "fazer justiça" não pode ser incluído entre as principais motivações do presidente George W. Bush.
Parece mais razoável supor que Bush esteja utilizando Saddam como pretexto para reforçar sua posição hegemônica. Ao buscar a todo custo a deposição de Saddam Hussein, Bush parece estar querendo mostrar ao mundo que é capaz de jogar duro quando lhe interessa.
Ainda que a disposição norte-americana tenha alguma racionalidade, ela não é isenta de riscos. É duvidoso, por exemplo, o efeito dissuasivo que um ataque ao Iraque teria sobre o terror. No plano prático, a intervenção pode desestabilizar ainda mais o Oriente Médio. Não seria desprezível o impacto da guerra sobre o preço do petróleo. Há até o risco de as ações unilaterais dos EUA terminarem por indispor Washington com aliados importantes, como a Alemanha.
O que parece vantajoso para Bush é que um conflito contra o Iraque manteria e até tenderia a elevar seus níveis de popularidade. É pouco para justificar uma guerra.


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