SÃO PAULO - Há quatro meses, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava tão perto de levar a eleição no primeiro turno como agora. No Datafolha de maio, os candidatos a presidente apareciam na mesma posição da pesquisa de ontem, com quase o mesmo número de votos. José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) juntos tinham apenas três pontos a mais que Lula, como agora.
Qual a diferença? A primeira, óbvia, são os quatro meses. Há menos tempo para triturar os adversários, os eleitores já observaram bem os candidatos etc. Mas há mais.
O eleitor de Lula é o que mais lembra espontaneamente de seu nome. Parece o mais seguro de sua opção. Na pesquisa eleitoral, o eleitor diz duas vezes em quem vai votar. Numa vez, declara o voto antes de olhar para uma cédula eleitoral fictícia mostrada pelo entrevistador do Datafolha (é o voto espontâneo). Noutra, o eleitor escolhe entre os candidatos que aparecem nessa cédula (é o voto estimulado). Lula tem 35% no voto espontâneo e 44% no estimulado. Ou seja, seus votos espontâneos representam quase 80% dos estimulados. No caso dos demais candidatos, esse número está em torno de 62%.
A rejeição a Lula quase não se alterou desde maio. A aversão a Ciro quase dobrou desde então. A rejeição a Serra cresceu 48%. Os dois, agora, são mais rejeitados que Lula. Serra triturou Ciro na TV, mas seu ataque a Lula desagradou, e muito, ao eleitorado. Por ora, Ciro e Serra se dão o abraço dos afogados.
Se a eleição fosse hoje, Lula praticamente ganharia no primeiro turno entre os que estudaram além da oitava série e entre os que ganham mais de R$ 1.000. O ponto mais fraco de Lula é seu eleitorado feminino, 20% menor que o masculino, além dos eleitores que não passaram do ensino fundamental e dos mais pobres (embora o petista tenha pelo menos 40% de todos esses grupos). Mulheres pobres e pouco instruídas são o grupo numericamente importante que mais discrepa, para baixo, da média de votos de Lula. O destino desta espantosa eleição pode estar nos corações e mentes dessas mulheres.


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