São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Elias bin Laden

RIO DE JANEIRO - Não participei da alacridade geral provocada pela captura do Elias Maluco. Evidente que folguei sabendo que mais um criminoso foi detido e, em tese, deixa de representar uma ameaça à sociedade. Mas já cansei do desfile macabro com que a polícia e a mídia, em consenso ou em confronto, volta e meia criam durante duas ou três semanas, provocando um impacto artificial em nosso cotidiano.
Escadinha, Tião Medonho, Mineirinho, Cara de Cavalo, Lúcio Flávio, Fernandinho Beira-Mar, Febrônio, o Bandido da Luz Vermelha -impossível lembrar a sucessão de tantos nomes que, em dado momento, apresentados como inimigos públicos nš 1, foram mortos ou presos. Nunca temi esses superbandidos; por um motivo ou outro, são reduzidas as chances de me defrontar com eles ou eles comigo.
Temo, isso sim, o baixo clero do crime organizado ou não, principalmente deste último, que nos é oferecido no varejo de cada cruzamento, no encontro de cada esquina, e do qual podemos sair sem a carteira ou sem a vida. A euforia que caiu como uma vitória do Brasil em Copa do Mundo nos escalões do governo estadual, da polícia e de certa parte da mídia foi não apenas exagerada, mas logo capitalizada para a campanha eleitoral aqui no Rio.
Afinal, esse tal de Elias Maluco é mesmo um arquibandido, um supercriminoso, ou é apenas um assassino que direta ou indiretamente matou um jornalista? Por mais repulsa que a morte do Tim Lopes nos tenha causado, por mais que lamentemos os detalhes de sua execução, não vejo por que soltar tantos foguetes por causa da prisão de mais um bandido que não será o último na inesgotável oferta de crimes.
Com propósito ou sem propósito, foram feitas aproximações entre a captura de Elias Maluco e a caça a Osama bin Laden. Dois criminosos, sem dúvida. Mas a prisão ou a morte deles não livrará o mundo e o Rio de continuarem vulneráveis ao crime e ao terrorismo.


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