São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Tomada de consciência

RIO DE JANEIRO - O senador Marco Maciel apresentou em junho deste ano um projeto de resolução que institui a Comissão Especial do Bicentenário da Independência do Brasil. Para um político escolado que nunca teve pressa e chegou a governador, presidente da Câmara dos Deputados, ministro e vice-presidente da República em dois mandatos, o projeto não pode ser encarado como uma precipitação.
Tivemos recentemente o fiasco das comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. Governo e sociedade praticamente se lixaram para a data, fizeram o mínimo do mínimo, mesmo assim fizeram mal.
Pode parecer uma preocupação menor diante dos desafios atuais que enfrentamos como povo e nação. Mas, se pensarmos na eficiência com que foi celebrado o primeiro centenário, em 1922, constatamos que o evento foi muito mais do que uma exposição na Esplanada do Castelo, então inaugurada, e a primeira visita de um rei europeu a nossos domínios. Bem verdade que o rei Alberto da Bélgica inaugurou um trem de luxo na Central do Brasil e deu início a uma siderúrgica, a qual, até a implantação de Volta Redonda, foi a forja mais importante de nossa incipiente industrialização.
Mas houve mais: o ano de 1922 marcou fundamente a nossa vida cultural, social e política, com a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, o início do ciclo tenentista, que desembocou na Revolução de 30, a fundação do Partido Comunista. O século 20, que, na Europa, começou com a guerra de 1914, no Brasil começou em 1922.
O projeto de Marco Maciel prevê que as atividades da comissão tenham início em 28 de janeiro de 2008, em alusão à abertura dos portos do Brasil, ponto de partida para nossa independência. E se estenderão até 2022. Não deverá ser um evento apenas festivo e mediático, mas uma tomada de consciência nacional.


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