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Editoriais
Tudo acaba na saúde
É INCRÍVEL a capacidade de
tantos políticos de burlar as
regras que eles próprios elaboraram. Por 416 votos a 3 na Câmara e por 69 a 2 no Senado, e
sob os aplausos da população, foi
aprovada em 2000 a emenda
constitucional nš 29, que vincula
verbas para a saúde. A norma estabelece que Estados gastem
nesse setor 12% de seu orçamento, municípios, 15%, e a União, o
orçamento do ano anterior mais
a variação do PIB nominal.
O diabo está nos detalhes. Como a emenda não foi regulamentada, a rubrica "gastos em saúde"
ficou sem definição. E políticos
adoram a ambigüidade. Isso
abriu as portas para governadores e prefeitos contabilizarem
como despesas sanitárias todo
tipo de empenho que de modo
direto ou indireto contribua para
manter os cidadãos vivos.
Começaram a incluir itens tão
exóticos como pagamento de
aposentadorias, merenda escolar, saneamento básico e até subsídios a restaurantes populares.
O próprio governo federal, que
agora se queixa do expediente,
tentou pôr, em 2003, o Fome Zero na conta da saúde.
Atento ao problema, o Conselho Nacional de Saúde (CNS)
baixou em 2003 uma resolução
definindo o que são gastos em
saúde. Só que, munidos de pareceres jurídicos, governadores e
prefeitos continuaram ignorando a resolução. Pelos critérios do
ministério, 19 das 27 unidades
federativas descumprem a Carta, deixando de investir algo como R$ 5,7 bilhões anuais na área.
É por isso que o ministro da
Saúde, José Gomes Temporão,
vem pressionando o Congresso
para que regulamente a emenda
29. A idéia é estabelecer com clareza o que pode e o que não pode
ser considerado despesa sanitária e dar força de lei à definição.
É uma medida necessária.
Ações em saúde dependem de financiamento regular, que não
pode ficar ao sabor das necessidades eleitoreiras.
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