São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Investimentos e fé

SÃO PAULO - A perspectiva de recorde no ingresso de investimento externo direto reforça uma tese que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, vem defendendo com a discrição que lhe é habitual, reforçada pelo receio de que possa parecer ufanismo deslocado. Coutinho acha que o Brasil pode descolar-se do ciclo econômico mundial, que tende à desaceleração, crescendo mais ainda na crise.
Lógico que o descolamento, se de fato houver, se dará nas atuais condições de temperatura e pressão, caracterizadas pela turbulência financeira. Em caso de crise de verdade, com efeitos também na economia dita real, ninguém sabe o que acontecerá.
A teoria de Coutinho apóia-se no fato de que dinheiro continua sobrando no mundo. Há apenas uma fuga ao risco. O Brasil tem todas as condições de oferecer a esse capital arisco ativos reais (hidrelétricas, estradas, infra-estrutura de modo geral), com retornos suculentos, ainda que de prazo mais longo do que apostas em papéis.
Capturado esse capital, de fato o país pode se tornar um "canteiro de obras", como previu a ministra Dilma Rousseff.
Mas esse dinheiro não virá por inércia. O governo tem que montar um esquema extremamente profissional, ousado, ambicioso, para ir atrás dele. Dilma até fez sucesso na segunda-feira, em Madri, ao vender o PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento) para empresários espanhóis. O entusiasmo deles todos pelo Brasil era visível, palpável. Mas não basta. No fundo, a ministra estava falando para convertidos, ou seja, para empresários que já têm pesados investimentos no Brasil e gordos lucros.
Não há empresário que não se entusiasme com quem lhe oferece gordos lucros. O ponto é conquistar os homens (e mulheres) de pouca fé, o pessoal do mercado. Aí, sim, pode dar-se o milagre do descolamento.

crossi@uol.com.br

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