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CLÓVIS ROSSI
Investimentos e fé
SÃO PAULO - A perspectiva de recorde no ingresso de investimento
externo direto reforça uma tese que
o presidente do BNDES, Luciano
Coutinho, vem defendendo com a
discrição que lhe é habitual, reforçada pelo receio de que possa parecer ufanismo deslocado.
Coutinho acha que o Brasil pode
descolar-se do ciclo econômico
mundial, que tende à desaceleração, crescendo mais ainda na crise.
Lógico que o descolamento, se de
fato houver, se dará nas atuais condições de temperatura e pressão,
caracterizadas pela turbulência financeira. Em caso de crise de verdade, com efeitos também na economia dita real, ninguém sabe o que
acontecerá.
A teoria de Coutinho apóia-se no
fato de que dinheiro continua sobrando no mundo. Há apenas uma
fuga ao risco. O Brasil tem todas as
condições de oferecer a esse capital
arisco ativos reais (hidrelétricas,
estradas, infra-estrutura de modo
geral), com retornos suculentos,
ainda que de prazo mais longo do
que apostas em papéis.
Capturado esse capital, de fato o
país pode se tornar um "canteiro de
obras", como previu a ministra Dilma Rousseff.
Mas esse dinheiro não virá por
inércia. O governo tem que montar
um esquema extremamente profissional, ousado, ambicioso, para ir
atrás dele. Dilma até fez sucesso na
segunda-feira, em Madri, ao vender
o PAC (Programa de Aceleração ao
Crescimento) para empresários espanhóis. O entusiasmo deles todos
pelo Brasil era visível, palpável. Mas
não basta. No fundo, a ministra estava falando para convertidos, ou
seja, para empresários que já têm
pesados investimentos no Brasil e
gordos lucros.
Não há empresário que não se entusiasme com quem lhe oferece
gordos lucros.
O ponto é conquistar os homens
(e mulheres) de pouca fé, o pessoal
do mercado. Aí, sim, pode dar-se o
milagre do descolamento.
crossi@uol.com.br
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