São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

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SERGIO COSTA

Carraspana federal

RIO DE JANEIRO - Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve, é apontado como um dos pais desta crise. Na sua gestão, o Fed começou a baixar juros para empurrar a economia dos EUA depois do crack de 1987 em Wall Street.
Aquela crise, mãe da atual, caiu no colo de Greenspan, recém-empossado chairman do Banco Central americano. No dia em que a Bolsa perdeu 508 pontos (22,6%) de uma vez, ele voava da capital para o Texas. Só soube o tamanho do pepino ao desembarcar. A comunicação móvel ainda engatinhava.
Ele conta, do seu ponto de vista, o terremoto do mercado naquele ano no livro "A Era da Turbulência". "A função do Fed durante situações de pânico no mercado de ações é evitar a paralisia financeira -estado caótico em que as empresas e os bancos suspendem pagamentos devidos uns aos outros", explica.
Para evitar a paralisia, o Fed comprou bilhões em títulos do Tesouro no mercado, aumentando a liqüidez, e começou a derrubar juros, para movimentar a economia, facilitando ainda mais o crédito.
Os EUA se recuperaram nos anos 90. Ao fim da década, tudo caminhava tão bem que Greenspan, conta no livro, costumava, ao acordar, dizer para si mesmo diante do espelho: "Lembre-se, isso é temporário. Não é assim que o mundo deve funcionar", beliscava-se.
Sobre pressões políticas, Greenspan cita William McChesney Martin Jr., outro ex-charmain do banco: "O papel do Fed é parar de servir bebidas quando a festa está começando a esquentar". O problema, parece, é quando o Fed gosta da festa. Greenspan se aposentou aos 80 anos, em 2006, após quase duas décadas pilotando o caixa do planeta.
Se errou ou não na dose nesse período, a história ainda vai dizer. A conta bilionária da farra financeira, no entanto, coube ao seu sucessor apresentar aos americanos.


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