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CARLOS HEITOR CONY
Informações e deformações
RIO DE JANEIRO - Trabalho em
jornal há bastante tempo. Muitos
dos cacoetes da profissão absorvi,
mas sempre sobram algumas deformações profissionais que não descem pela garganta.
Uma delas -já contei em crônica
passada- é a proibição da palavra
"câncer": já foi proibida nos jornais
brasileiros. Outro cacoete que não
desce é a discriminação dos jornais
em certos casos policiais. Se um favelado toma umas e outras e esfaqueia a mulher, ou se uma favelada,
enlouquecida pelo ciúme ou pela
bebedeira do marido, dá um tiro no
cujo -o fato é narrado com todos os
detalhes: fica-se sabendo quantas
amantes o cujo tinha, ou quantas
vezes batia na mulher, ou quantas
garrafas bebia.
Já o negócio é outro quando o
mesmo incidente -trágico, lamentável, mas próprio da condição humana- acontece com o pessoal da
sociedade, das finanças, da política
ou da classe artística.
Tenho anos na profissão e sei como essas coisas acontecem: pressões de amigos, às vezes de anunciantes e, às vezes, pressão nenhuma, apenas a rotina de excetuar os
políticos, empresários e artistas das
misérias da condição humana, deixando facadas e tiros para os favelados, os alagados, os humilhados e
ofendidos da vida.
Há tempos, um ex-ministro foi
esfaqueado pela amante. Os jornais
-era tempo de ditadura- apresentaram o fato como se fosse um assalto, o ex-ministro estaria se dirigindo para o carro quando um assaltante surgiu à sua frente e o esfaqueou.
Todo mundo sabia de tudo, e a
mentira oficial, através da imprensa, não colou. Acredito que os jornais não precisam mais dessa subserviência ao poder, ao talento, ao
dinheiro.
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