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FERNANDO GABEIRA
Rio ao alvo
RIO DE JANEIRO - Não é preciso
acabar com a violência no Rio para
realizar a Olimpíada. A Rio 92 e o
Pan tiveram esquemas pontuais de
segurança. E deram certo.
É preciso reduzir a violência por
amor ao Rio. Nossa singularidade: o
tráfico de drogas e as milícias ocupam militarmente parte do território. Sem um plano de libertação das
pessoas sob o jugo dessas forças, tudo vira conversa fiada.
Um plano para liberar quase 600
comunidades não quer dizer plano
piloto, feito num só lugar para
atrair a imprensa. Significa recurso
humano, equipamento e dinheiro.
No Haiti, gastamos mais que no
Rio, e lá foram pacificadas duas
áreas: Bel-Air e Cité Soleil. Ambas
estão situadas numa área plana, ao
contrário das quase 600 cariocas, a
maioria em morros. Ao contrário
do que muitos pensam, a polícia carioca, na sua maioria, é favorável a
reformas e, nas eleições, vota com
propostas de mudança.
O que está faltando é um projeto
de liberação que possa ser verificado em suas diferentes etapas. Isso
deveria partir de um presidente.
Tanto Lula como Fernando Henrique mantiveram uma distância
olímpica desse tema.
É como se a questão policial não
fosse nobre o bastante para ocupar
um estadista. Cá para nós, no Afeganistão, derrubam helicópteros e é
uma guerra. O problema no Rio não
é só a derrubada de helicópteros,
mas a aparição de corpos em carros
de supermercado.
É toda uma ideia de civilização
brasileira que é implodida por essas
imagens. Esqueçam a Olimpíada.
Concentrem-se numa ideia de país
que se dissipa na fumaça dos tiros,
nos corpos amontoados em porta-malas. Por amor ao Rio, esqueçam a
interface com o mundo, concentrem-se nas fronteiras da barbárie.
Há anos que esperamos uma resposta e só ouvimos o matraquear
das armas, a explosão de granadas.
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