|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
RUY CASTRO
Estrela a jato
RIO DE JANEIRO - Ainda sobre Pelé, no dia de seus 70 anos. Quando
se atenta para certos aspectos de
sua biografia, conclui-se que ele
não tinha alternativa. Pelo menos
no começo, as coisas precisariam
ter sido exatamente como foram
para que ele se tornasse quem foi.
Quando chegou ao Santos, por
exemplo, com pouco mais de 15
anos, Pelé estava estreando suas
primeiras calças compridas. Foi
morar na pensão de uma senhora
conhecida de seus pais e ia de bonde para o trabalho. Dois anos depois, já campeão do mundo pela seleção e cobiçado pela Europa, podia comprar quantos apartamentos
e carros quisesse, mas continuou
morando na pensão e andando de
bonde.
Pelé tinha voz grossa, mas ainda
era muito infantil. Na seleção, os
mais velhos lhe perguntavam o nome de uma fruta que começasse
com M, apenas para ouvi-lo dizer
"Minduim". Ou se ele já tinha se
acostumado a viajar de avião, para
que respondesse: "Não, eu não me
adapito". Aliás, Pelé não poderia
nem ser jogador profissional, por
ainda não ter o documento militar
-serviço este que ele, já o maior jogador do mundo, teve de prestar
em 1959, sem contemplação.
Em 1958, na seleção que disputou a Copa da Suécia, Pelé ainda
não completara 18 anos. Tinha idade para ser a revelação da Copa,
mas não para entrar num cinema
brasileiro e assistir a "E Deus...
Criou a Mulher", filme com Brigitte
Bardot impróprio para menores,
lançado naquela época. Ou numa
boate do Rio ou de São Paulo para
dançar e ouvir o ídolo Agostinho
dos Santos. Ou para sentar-se num
botequim e pedir uma Caracu.
Ironicamente, pouco depois da
Copa e já de maior, Pelé poderia entrar em qualquer boate do planeta
sem pagar, dar autógrafo para seu
admirador Agostinho e, se as circunstâncias ajudassem, numa das
excursões do Santos a Paris, ter namorado a própria Brigitte Bardot.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: A aflição de Lula Próximo Texto: Cesar Maia: Voto conservador
Índice | Comunicar Erros
|