São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2010

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RUY CASTRO

Estrela a jato

RIO DE JANEIRO - Ainda sobre Pelé, no dia de seus 70 anos. Quando se atenta para certos aspectos de sua biografia, conclui-se que ele não tinha alternativa. Pelo menos no começo, as coisas precisariam ter sido exatamente como foram para que ele se tornasse quem foi.
Quando chegou ao Santos, por exemplo, com pouco mais de 15 anos, Pelé estava estreando suas primeiras calças compridas. Foi morar na pensão de uma senhora conhecida de seus pais e ia de bonde para o trabalho. Dois anos depois, já campeão do mundo pela seleção e cobiçado pela Europa, podia comprar quantos apartamentos e carros quisesse, mas continuou morando na pensão e andando de bonde.
Pelé tinha voz grossa, mas ainda era muito infantil. Na seleção, os mais velhos lhe perguntavam o nome de uma fruta que começasse com M, apenas para ouvi-lo dizer "Minduim". Ou se ele já tinha se acostumado a viajar de avião, para que respondesse: "Não, eu não me adapito". Aliás, Pelé não poderia nem ser jogador profissional, por ainda não ter o documento militar -serviço este que ele, já o maior jogador do mundo, teve de prestar em 1959, sem contemplação.
Em 1958, na seleção que disputou a Copa da Suécia, Pelé ainda não completara 18 anos. Tinha idade para ser a revelação da Copa, mas não para entrar num cinema brasileiro e assistir a "E Deus... Criou a Mulher", filme com Brigitte Bardot impróprio para menores, lançado naquela época. Ou numa boate do Rio ou de São Paulo para dançar e ouvir o ídolo Agostinho dos Santos. Ou para sentar-se num botequim e pedir uma Caracu.
Ironicamente, pouco depois da Copa e já de maior, Pelé poderia entrar em qualquer boate do planeta sem pagar, dar autógrafo para seu admirador Agostinho e, se as circunstâncias ajudassem, numa das excursões do Santos a Paris, ter namorado a própria Brigitte Bardot.


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