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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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A REDE COMO ELA É

Repetir o óbvio ululante é exasperador, mas os indicadores mais recentes sobre a população mundial de usuários da internet tornam inevitável a constatação de que nada escapa aos limites impostos pela má distribuição de renda.
O Brasil, que se destaca internacionalmente por suas experiências exitosas no campo das novas tecnologias de informação e comunicação, é ainda retardatário quando o assunto é acesso, ou seja, inclusão social.
O país desperta admiração em todo o mundo pelo sucesso de sua rede de automação bancária, pelo volume de impostos que são pagos pela internet, pela qualidade do sistema de urnas eleitorais digitais e pela criatividade de seus inúmeros projetos e programas de inclusão digital.
A riqueza dessa constelação de iniciativas que envolvem uma das mais avançadas tecnologias contemporâneas contrasta, no entanto, violentamente com os números relativos à qualidade da participação dos cidadãos na rede mundial.
A população mundial de internautas alcançou 591,6 milhões de pessoas no final de 2002 de acordo com a Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento) e a ITU (União Internacional das Telecomunicações). Houve um crescimento de 27,2% em relação a 2001. É portanto, apesar da crise global, um setor ainda dinâmico.
O Brasil, que figura no relatório com 14,3 milhões de internautas, fica em 11º lugar do mundo em número de usuários da rede. Considerados não os números absolutos, mas o acesso digital, o país cai para a 65ª colocação. O método usado para definir "acesso digital" é o da composição de vários indicadores: infra-estrutura, preço, nível de instrução, qualidade e número de usuários. Nessa visão, o Brasil perde para Jamaica, Argentina, Uruguai e Chile.
O custo tanto das linhas telefônicas como dos serviços de acesso à rede são ainda elevados no país. Como o perfil brasileiro de distribuição de renda é um dos piores do mundo, essa barreira de custos torna-se por ora intransponível.
A mesma realidade tem sido observada em outras áreas cruciais de acesso em grande escala à informação, como a televisão a cabo, educação de qualidade e entretenimento: no Brasil, predomina a exclusão.
A rede imita a vida. O país rico de população pobre e desigualdade extrema corre o risco de perder o trem, ou a infovia, da história.



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