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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A caixa de Pandora

MIAMI - A ocupação norte-americana do Iraque tinha como objetivo, entre outros, levar a guerra ao terrorismo a um de seus supostos epicentros e, por extensão, tornar o mundo mais seguro.
Deu exatamente o inverso. O terrorismo é que levou a sua guerra ao coração de italianos, britânicos e turcos, para não falar de outras tribos colhidas no meio dessa tremenda insanidade e à espera de que novos países ou nacionalidades sejam atingidos. O próprio governo norte-americano alertou, na sexta-feira, sobre a iminente possibilidade de repetição de atentados tão cruentos como o da véspera na Turquia.
O pior é que contra esse gênero de crime não há prevenção possível. O pressuposto racional é o de que o criminoso procura escapar com vida do crime que comete, para saborear os seus frutos, sejam quais forem. Quando alguém viola essa racionalidade e se dispõe a matar e morrer no mesmo ato, que defesa é possível?
Além disso, multiplicou-se praticamente ao infinito a quantidade de alvos disponíveis. Basta examinar um pouquinho as razões pelas quais se supõe que a Turquia tenha sido o alvo mais recente da violência: diz-se que é porque se trata de um país de maioria muçulmana, mas que colabora intensamente com o Ocidente, ainda que a maioria de sua população tenha se manifestado contra a invasão do Iraque.
Bom, há um punhado de países de maioria muçulmana cujos governos cooperam com o Ocidente, a começar do maior deles, a Indonésia, no qual, de resto, já há uma facção extremista praticando atos terroristas. Quantos bancos ou outros símbolos quaisquer britânicos, espanhóis ou norte-americanos existem nesses países para servirem de alvo como ocorreu em Istambul? É impossível vigiá-los todos.
O que se fez, portanto, foi disseminar a insegurança. Pior ainda: não dá mais para gritar vitória e sair correndo do Iraque e do Afeganistão, na expectativa de que o terrorismo cesse. Não vai ser nada fácil fechar a caixa de Pandora.



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