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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O ocaso de Pitta
SÃO PAULO - A verdade é que
quase mais ninguém se lembrava de
que Celso Pitta estava vivo. A surpresa pela morte precoce vem
acompanhada por essa outra circunstância -da morte em vida. A
última aparição de Pitta que ficou
na memória coletiva é sintomática:
alvo da operação Satiagraha, foi filmado em casa, preso de pijamas.
Ao longo dos últimos anos, sua figura emergia de quando em quando
das profundezas do oceano, onde
parecia habitar assustado, sempre
associada ao noticiário político-policial ou a escândalos familiares.
A trajetória que o levou do anonimato à glória e desta à ruína está
atrelada a Paulo Maluf. Pitta foi o
herdeiro e o coveiro do malufismo.
Com ele, a engrenagem da máquina
malufista entrou em parafuso, conheceu sua autofagia.
Depois do rompimento entre
criador e criatura, Maluf costumava
contar a seguinte história: "Quando
o escolhemos candidato, eu disse
para o Pitta: se você for um bom
prefeito, vai virar governador, se for
um bom governador, pode se tornar
o Nelson Mandela brasileiro. Mas o
Pitta não soube..." -e blablablá.
Quando, em 1996, passou a prefeitura a Pitta, que derrotou Erundina e Serra, Maluf planejava ser
presidente. Acabou derrotado por
Covas numa disputa acirrada ao governo, em 1998. Marta Suplicy deve
sua eleição em 2000 ao colapso do
malufismo e da administração da
cidade -obras de Pitta. Lembre-se
que Kassab foi seu secretário do
Planejamento entre 1997 e 98.
Negro, carioca, economista com
mestrado em Harvard, político de
direita com perfil tecnocrático, personalidade mansa e apagada, uma
figura rica e ao mesmo tempo muito frágil e fraca. Pitta foi empregado
de Maluf na Eucatex antes de ser
seu empregado na vida pública.
A secura das mensagens de pêsames que a família recebeu mostra o
grau do ostracismo em que se achava. Trinta pessoas foram ao enterro.
Seria útil contar melhor a vida deste
político acidental, que tinha olhar
de cachorro abandonado e parecia
triste até quando sorria.
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