São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

Finanças, esquerda e Palocci

SÃO PAULO - Quem observa o queixume causado pelo ministério de Lula da Silva entre esquerdistas de todos os tons tem a impressão de que FHC e Pedro Malan venceram. Mas não se trata de dizer, como na reação padrão da esquerda, que "a ortodoxia financeira" permanece.
A impressão de vitória ideológica do governo morituro vem do fato de que a crítica da esquerda acabou por ser tragada pelo redemoinho financista que marcou o país na última década. Parece que nada mais importa além do presidente do Banco Central e quejandos. Em entrevista na Folha de ontem, Antonio Palocci, futuro ministro da Fazenda, ressalta esse engano: a política monetária e fiscal não pode presidir o país, como ocorreu nos últimos anos.
É evidente que definições sobre juros e gastos públicos têm papel central. Mas seriam menos importantes decisões sobre energia e desenvolvimento de regiões pobres? No entanto, isso é tratado como ninharia e como se avanços nessas áreas fossem incompatíveis com a prudência financeira. Por que ministros de Minas e Energia ou Cidades não causam discussão apaixonada?
Isto posto, não se quer dizer que não havia alternativa à escolha dos nomes e das idéias centrais para a política econômica. Na Unicamp e na Universidade Federal do Rio há acadêmicos com idéias mais típicas do PT. São capazes, embora inexperientes de mercado e com dificuldades para compor equipes operacionais. Basicamente, querem um país mais fechado e têm visão muito diferente das causas e efeitos da inflação no Brasil, embora não se conheçam as políticas que adotariam para implementar suas idéias.
No presente e crítico momento das finanças nacionais, o programa que defendem provocaria uma convulsão econômica de resultado incerto a não ser o afastamento do país do mercado mundial. Uma transição suave seria mais prudente e eficaz. Caso tal transição dê certo, haverá tranquilidade para dar início à mudança política e econômica de que o país precisa e as idéias mais radicais perderão de vez todo o sentido.


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