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FERNANDO RODRIGUES
Foro privilegiado e cela especial
BRASÍLIA - Há controvérsia sobre a aprovação do foro privilegiado para
ex-governantes.
Quem é a favor fala sobre o surrealismo de um juiz de primeira instância do interior, com base em informações contraditórias, expedir uma ordem de prisão contra um ex-presidente da República.
Quem é contra considera o foro privilegiado um descaso com a população, pois todos os 175 milhões de brasileiros podem ser vítimas de algum
juiz que eventualmente toma uma
decisão de forma açodada.
No fundo, o problema do foro privilegiado é o costume secular da elite
brasileira de não resolver os problemas, mas apenas encontrar saídas
paliativas.
O raciocínio de defesa do foro privilegiado é semelhante ao que foi usado para criar a cela especial para brasileiros com curso superior.
O sistema carcerário é ruim, precário e perigoso. Vamos reformá-lo?
Não, é muito difícil. Enquanto isso,
dá-se cela especial para quem é bem
posicionado na sociedade.
O sistema judiciário é falho, poroso
e permite que um juiz de primeira
instância aceite o pedido de arresto
de bens ou conceda ordem de prisão
sem ouvir o envolvido. Vamos reformar o Poder Judiciário e torná-lo
mais eficaz? Não, é muito difícil. Enquanto isso, aprova-se o foro privilegiado para ex-governantes.
É uma falácia o argumento de que
ex-governantes serviram ao país e ficam mais expostos do que outros cidadãos. Dezenas de brasileiros que
são presidentes de ONGs, clubes de
futebol ou associações de bairro podem ser vítimas de enxurradas de
ações na Justiça.
É quase ocioso falar sobre o foro
privilegiado agora que já foi aprovado. Mas é certo prever que esse tipo de
remendo só retarda ainda mais a reforma do Judiciário, proposta por dez
entre dez pessoas que entendem do
tema. Eis aí uma tarefa para ser conduzida pelo próximo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
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