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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Dirceubrás
SÃO PAULO - José Dirceu tem um
blog -o "blog do Zé". Ele o define
como "um espaço para a discussão
do Brasil". Discutindo o Brasil como quem não quer nada, Dirceu escreveu o seguinte: "Do ponto de vista econômico, faz sentido o governo
defender a reincorporação, pela
Eletrobrás, dos ativos da Eletronet,
uma rede de 16 mil quilômetros de
fibras óticas" etc. etc. etc.
Este é um assunto caro a Dirceu.
Seu primeiro post sobre o tema é de
março de 2007. Por coincidência, o
mesmo mês em que o empresário
Nelson Santos contratou seus serviços de consultoria. Ficamos sabendo disso só ontem, pela reportagem de Marcio Aith e Julio Wiziack.
Em 2005, Nelson Santos, dono da
"offshore" Star Overseas, sediada
nas Ilhas Virgens, havia comprado
pelo valor simbólico de R$ 1 a participação em uma empresa à época
falida -a Eletronet. Entre 2007 e
2009, o empresário pagou a Dirceu
R$ 620 mil por consultorias. Se a
Telebrás for reativada, como anuncia o governo, o mesmo bidu que
desembolsou R$ 1 pela Eletronet
pode sair dela com R$ 200 milhões.
Diante disso, o que Santos gastou
com Dirceu é fichinha -ou não?
O ex-ministro da Casa Civil de
Lula diz que a consultoria versava
sobre os "rumos da economia na
América Latina". Sabemos que Dirceu não mente. Usou na vida várias
máscaras, mas a palavra é uma só.
O homem de negócios e o revolucionário convivem numa boa na
pessoa de Zé Dirceu. O capitalismo
de Estado e os interesses privados
nele se acomodam harmonicamente. Ele é o "bolchebusiness" perfeito. Não há contradições insolúveis
no horizonte de um democrata que
se mira em Cuba ou de um socialista que topa tudo por dinheiro.
Durante o congresso do PT, vários oradores usaram o microfone
para inflamar os companheiros
contra o fantasma do "modelo neoliberal". Ninguém lembrou de levantar a voz contra o "modelo neopatrimonialista". Pelo contrário.
De óculos escuros, o neopatrimonialismo em pessoa circulava sorridente entre petistas, posando para
fotos como um verdadeiro popstar.
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